terça-feira, 22 de novembro de 2005

Sou só eu quem vê?


Ver a apresentação do projecto do Aeroporto da Ota com pompa e circunstância irrita-me. Muito. Será que só eu vejo? Ou que todos fingem não ver?
1- Se o Aeroporto da Portela colapsar (o que nunca aconteceria se fosse alargado), naturalmente surgiriam outras soluções dadas pelo mercado. Potenciava-se a utilização dos aeroportos do Porto e do Algarve; transformar-se-ia o aeródromo de Cascais num segundo aeroporto de Lisboa. A Ota não é necessária.
2- Que sentido tem aumentar-me os impostos e cortar-me direitos adquiridos para construir um aeroporto desnecessário? É revoltante.
3- A demagogia de falar na criação de 58 mil postos de trabalho pelo novo aeroporto "esquecendo" que o encerramento da portela põe 58 mil pessoas no desemprego incomoda-me.
4- O turismo de curta duração de Lisboa desaparece. Alguém vem da finlândia passar um fim de semana a Lisboa, sabendo que o aeroporto dista a 60 Kilómetros?
5- O impacto que a construção terá na economia será, obviamente, na economia estrangeira. Não sejamos ingénuos e pensar que serão as empresas portuguesas a fornecer os materiais necessários a uma construção deste tipo. A sua construção resultará, claramente, num exponencial aumento das importações.
6- Metade das verbas necessárias serão conseguidas pelo recurso ao crédito bancário: qualquer pessoa que tenha lido um manual de finanças públicas entende que o recurso ao crédito tem de ser pago... por mais impostos. A diferença é que se oneram as gerações futuras.
7- A construção da ota implica não só um desnecessário corte no restante investimento do Estado como põe definitivamente em causa necessidades sociais: quantas escolas (que a Ministra da Educação diz que são necessárias) podiam ser construídas com essas verbas? Quantos Hospitais?

Ver isto tudo a acontecer e não poder fazer nada põe-me verdadeiramente mal disposto. É por isto que sou verdadeiramente contra a existência de maiorias absolutas na Assembleia da República. Repare-se que um orçamento prevendo a Ota nunca seria aprovado caso a maioria não existisse, pois TODOS os restantes partidos são desfavoráveis à sua construção.

3 comentários:

  1. Bem, naturalmente discordo, mas isso sabes bem que é normal.
    Como também é normal que toda a oposição seja contra algo que se queira fazer mesmo, e que à muito se pense mas que nem todos assumem e nem todos têm coragem.
    Para eles era só engonhar durante mais dez anos.
    Ah, e a conversa das escolinhas é um pouquito demagógica, com todo o respeito.
    Se não houvesse aeroporto haveriam escolas e hospitais? muito provavelmente não.
    O dinheiro que financia o projecto nunca viria a ser implementado em escolas porque simplesmente grande parte do financiamento não é o Estado que o faz.
    E até o facto de serem muitas empresas estrangeiras a vir cá não é completamente mau, ideial seria que fosse 100% português mas pensar isso seria apenas um sonho. Mas captar investimento estrangeiro é mau?
    Creio que não.

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  2. As escolas podiam não ser construídas, mas eu não estava a sofrer restrições e subidas de impostos que me dizem ser necessárias quando para mais nada servem do que financiar projectos faraónicos e desnecessários. Além de que, pode acarretar a falência de empresas portuguesas como a Portugália, que tem a sua economia baseada na rota Lisboa-Porto e que, inevitavelmente, deixará de existir. Quem fará 60 kms de comboio antes de apanhar um avião? Seguirá, obviamente, de avião até ao Porto.
    É lamentável.

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  3. E pelos vistos o próprio Presidente da Câmara de Lisboa era favorável à criação do Aeroporto da OTA. Ah, mas isso era enquanto Ministro.

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