sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Desilusão à esquerda

Mesmo pensando "à direita", não posso deixar de admitir que admiro e respeito muitas personalidades da esquerda. Manuel Alegre e Mário Soares estão entre essas personalidades, pelo que assisti com muita atenção ao debate entre ambos.
Fui atingido por grande desilusão. Nunca pensei que fosse possível candidatos presidenciais, arrogando-se conhecedores da Constituição que jurarão defender, digam tamanhos disparates.
Exemplos?
Infelizmente, é só escolher. Ficam dois exemplos.

I. A privatização da distribuição das águas
Manuel Alegre afirmou ser radicalmente contra a privatização da distribuição das águas, estando disposto a utilizar todos os meios ao seu dispor para o combater. À pergunta "mas quais meios?", Manuel Alegre falou nas comunicações à Assembleia da República, à Nação e, caso não seja suficiente, demissão do Governo ou dissolução da Assembleia.
Mário Soares, à mesma questão, repetiu as mesmas ideias, dizendo que nesse âmbito os poderes do presidente são poucos, pelo que nada mais haveria a fazer.
MAS NENHUM DELES CONHECE A LEI-QUADRO DAS REPRIVATIZAÇÕES?
Pelos vistos não, e era importante.
É que nos termos daquela, as privatizações fazem-se por Decreto-Lei, pelo que o Presidente dispõe de direito de veto. Nenhum dos dois sabe disto. É triste.
Tanta ignorância irritou-me e acho que não se coaduna minimamente com uma candidatura presidencial.

II. O direito de veto
Mário Soares alertava Manuel Algegre que a utilização do direito de veto deve ser parcimoniosa, ilustrando com o seguinte exemplo: "Quando a Assembleia envia um decreto-lei ao Presidente e este o veta politicamente, a Assembleia pode confirmar o decreto-lei!"
Exmo. Sr. Dr. Mário Soares: Qualquer aluno do primeiro ano de direito sabe que quem aprova decretos-leis é o Governo, e o veto de um decreto-lei não pode ser confirmado. A Assembleia aprova Leis e estas sim, podem ultrapassar o veto.
Uma confusão destas é grave, muito grave.
Mário Soares lembra-se, provavelmente, de receber decretos da assembleia. Pois bem, decreto é o acto ainda não promulgado. Depois de objecto da promulgação, um decreto da assembleia da república assume a natureza de Lei e não de Decreto-Lei...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Os debates para as presidenciais.

Debate, de acordo com o dicionário PRIBERAM, é um substantivo masculino significando discussão, altercação, disputa.
Se tivermos em conta que para discutir é necessário uma comunicação entre duas pessoas, rapidamente chegamos à conclusão que os programas que temos visto com os candidatos presidenciais são tudo menos debates: são duas entrevistas que por acaso são feitas no mesmo sítio e à mesma hora...
Não só não têm qualquer interesse (os candidatos já deram entrevistas suficientes), como se tornam tão aborrecidos que a reacção normal de qualquer espectador é procurar qualquer outro canal ou mesmo desligar a televisão.
As candidaturas prestaram um mau serviço à democracia ao acordar neste sistema. Nem se culpe exclusivamente a candidatura de Cavaco Silva - as restantes poderiam ter insistido num modelo de debates verdadeiros e Cavaco Silva não teria outra hipótese senão ceder, sob pena de conferir gratuitamente tempo de antena aos outros candidatos sem direito de resposta. Todas as candidaturas falharam.
Espero que a situação actual sirva de lição para o futuro, eliminando-se este modelo. Por enquanto, vou procurar qualquer ocupação, porque não há paciência para ouvir duas entrevistas aborrecidas e em simultâneo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Estabilidade e limites

Por princípio, penso que as pessoas devem levar até ao fim os seus mandatos. O PGR não é excepção.
Mas passa-se alguma coisa de muito, muito grave, como denotam estas suas afirmações transcritas pela LUSA: "Se continuam a afirmar a sua inocência e a dizer que isto é uma construção e uma cabala porque é que em três anos nunca me trouxeram elementos por onde eu pudesse puxar para confirmar a tese?"
O PGR é um magistrado, sabe bem que, com o trânsito em julgado do Acórdão da Relação de Lisboa, as pessoas JÁ FORAM REALMENTE INOCENTADAS, o que aliás, se presume, mas isso é um princípio, que a malta já meteu toda na gaveta.
Isto já nada tem que ver com eventual falta de tacto político.
Ou há razões, sei lá, obscuras para estas afirmações ou o Procurador quer mesmo ser demitido.
Mariana G. Machado

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Os "despedimentos selvagens"...

Hoje ouvi Jerónimo de Sousa, personalidade que muito respeito, acusar Cavaco Silva de ter promovido uma política de despedimentos selvagens. Por acaso não é verdade que o tenha feito, mas defendo que deveria ter intervindo no sentido da flexibilização dos despedimentos.
A flexibilização dos despedimentos é a maior medida de combate ao desemprego que um Governo pode adoptar: hoje ninguém quer contratar! Pudera, sabendo que um trabalhador só pode ser despedido em casos tão excepcionais como os previstos na lei, o objectivo é não contratar, evitar a todo o custo a celebração daquele monstro de que todas as empresas fogem a sete pés: o contrato de trabalho sem termo.
Obviamente não pode liberalizar-se o despedimento, a segurança no emprego é um valor fundamental que não pode ser descurado. Mas essa segurança no emprego deve ser compatibilizada com uma economia que se quer competitiva e com uma política de fomento das contratações, tendentes ao pleno emprego.
Assim, não me chocaria que pudessem prever-se, por exemplo, despedimentos sem causa, desde que com um pré-aviso de um ano e uma justa indemnização.
Só assim se pode combater o desemprego, pois só assim as empresas se aventurarão a contratar trabalhadores, sem terem o estigma que esses funcionários, em princípio, nunca vão poder ser despedidos...
A defesa da rigidez do regime da cessação do contrato de trabalho é nefasta para a economia e, principalmente, danosa para os trabalhadores desempregados. Se o PCP não percebe isto rapidamente, mais factos como o apoio dos sindicalistas a Cavaco sucederão. O PCP tem de acompanhar quem defende, e os trabalhadores já perceberam que matar os capitalistas, matar os investidores, é matar quem lhes dá o pão.
Assim, pergunto: No dia em que todos os trabalhadores estiverem à direita, para que serve o PCP? É que muitos já estão... ainda por cima sindicalistas...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

O "caso do Seixal"

Em regra, por más razões, alguns dos processos judiciais chamados mediáticos têm posto a justiça sob os holofotes da opinião pública.
Foi o caso da “Casa Pia”, o caso de “Felgueiras” e é agora, entre outros, o “Caso Seixal”.
Neste último, dizem as notícias de hoje, que o julgamento que julgou a autarquia responsável pela morte de uma criança que caiu num esgoto e a condenou a pagar aos pais uma indemnização de 250 mil euros, foi anulado e terá que ser repetido, por não serem perceptíveis os depoimentos produzidos por algumas testemunhas na audiência.
Devo dizer que não me surpreende particularmente; é mais um exemplo da falta de investimento com que a Justiça tem sido tratada pelos sucessivos governos.
Da perspectiva jurídica, e por muito que isto escandalize e revolte alguma opinião pública não há outra solução possível, pois que é manifesto que o direito de recurso, como direito fundamental que é, não pode ser questionado ou a sua legitimidade posta em causa.
Já a perspectiva política é, talvez, mais inquietante. E do ponto de vista político a minha perplexidade é a seguinte: não deveria a Câmara ter de imediato assumido a responsabilidade? Agora perante a sentença do Tribunal não deveria pura e simplesmente ter pago e encerrado o assunto?
Mariana G. Machado