domingo, 29 de janeiro de 2006

Um modelo económico diferente

Já há algum tempo que queria escrever sobre uma experiência extremamente interessante que está a acontecer em Itália e que já se propagou para outros países: a Banca Ética (www.bancaetica.com).
Trata-se de um projecto iniciado e desenvolvido por um conjunto de organizações não-lucrativas italianas que estão a tentar provar que coisas como a busca do lucro e ética não são incompatíveis (ponto bastante actual, conforme se constata do meu último post).
No final da década de 90, estas organizações fizeram uma grande recolha de fundos e criaram um banco que, à primeira vista, é em tudo semelhante aos restantes. Mas uma análise mais atenta revela profundas diferenças.
Este banco (e outros que entretanto foram criados à sua imagem) assumiu, perante os seus clientes e accionistas, o compromisso de desenvolver a sua actuação de uma forma etica e socialmente responsável.
Em conformidade com esse compromisso, a Banca Popolare Etica apenas concede financiamentos após analisar as consequências sociais, ambientais e económicas dos projectos que lhe são apresentados, sendo imprescindível a adesão das entidades candidatas à carta de princípios que rege a actividade deste Banco.
Adesão essa que terá de se concretizar no terreno, sob pena de o financiamento concedido ser cancelado.
Outra diferença relativamente à banca tradicional é que o contributo dos accionistas e clientes é bem-vindo e até encorajado, sendo considerado uma mais-valia para o processo decisório.
Não conheço o projecto tão bem como gostaria, portanto é possível que tenha falhas que desconheço.
O que me parece que ele tem de interessante é mostrar que, para que a economia funcione, não temos de aceitar que as empresas sejam totalmente amorais. Existe outra via. Não temos de nos contentar com um mundo assim.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

China says "Jump!", Google asks "How high?"

São absolutamente repugnantes as concessões que o Google ao governo chinês decidiu fazer para ter acesso ao enorme mercado que os cerca de 111 milhões de internautas chineses representam.
De acordo com a notícia hoje veiculada pela RTP (http://www.rtp.pt/index.php?article=219796&visual=16), o gigante norte-americano decidiu auto-censurar-se e não disponibilizar serviço de e-mail, de mensagens instantâneas ou de blogues para poder desenvolver a sua actividade nesse país, em vez de actuar a partir dos EUA como vinha fazendo (método que se revelou pouco eficaz, já que o motor de busca era muito lento e muitas vezes bloqueado pelo governo).
Pesquisas que envolvam termos controversos, como "independência de Taiwan", "independência do Tibete", a seita religiosa Falun Gong, proibida por Pequim, ou "protestos de Tiananmen", darão de caras com uma página a informar que a consulta desses conteúdos não é autorizada pelo governo chinês.
Ninguém discute que a internet é um meio que, cada vez mais, precisa de algum grau de controle para não servir de ferramenta de trabalho para grupos terroristas, racistas, etc...
Mas também ninguém discute que uma das maiores forças e vantagens que a internet trouxe à civilização é precisamente a liberdade que dá a todos que a ela recorrem, especialmente a liberdade de expressão. A partilha de pontos de vista, de culturas e de experiências que acrescentou à Humanidade tem uma riqueza incalculável.
Por outro lado, a internet permite uma circulação de informação terrivelmente perigosa para regimes autoritários e repressivos como a China e o Irão (mais um que censura o acesso à internet).
Ver uma empresa, seja ela de que nacionalidade for, limitar essa liberdade, e ainda mais em conivência com um regime como o da China, é profundamente repugnante. Especialmente se tivermos em conta que a motivação principal é aumentar a margem de lucro...
É apenas mais uma razão para não permitirmos que sejam as grandes empresas a gerir o nosso mundo.
Mal posso esperar que o "Quaero" (motor de busca desenvolvido por empresas como a Deutsche Telecom, a France Telecom e a Thompson) comece a funcionar. Só para ver a hegemonia do Google desafiada.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Oportunidade criada por Alegre

Na minha opinião, a enorme votação em Alegre, para além de tudo o mais, revelou que a sociedade civil portuguesa estava receptiva (e, em alguns sectores, até desejosa) a movimentos e iniciativas que não estivessem dependentes do partidos, que não fossem por eles geridas, e que tivessem, aliás, uma postura um pouco "contra o sistema".
Aparentemente, há mais pessoas a pensar assim já que, de acordo com o Público, "os apoiantes da candidatura presidencial de Manuel Alegre vão reunir-se sábado, em Lisboa, para discutir os resultados das presidenciais e analisar a possibilidade de lançar um movimento ou associação de cidadãos".
Pela minha parte, parece-me uma oportunidade única para introduzir novos contributos no sistema político português, para alterar um pouco a sua dinâmica, no fundo, para ver se a relação dos portugueses com a política muda.
Algo que, na minha óptica, só mudará quando lhes for pedida uma maior intervenção no governo dos destinos deste país.
Espero, sinceramente, que não deixem passar esta oportunidade, porque não há dúvidas que a política portuguesa necessita disso.
Esperemos para ver...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

O Povo é soberano!

VITÓRIA!
Sem margem para dúvidas, o Povo deu um sinal claro que Cavaco Silva é uma personalidade incontornável neste país e que mereceu, mais que qualquer seu antecessor, ser Presidente da República. Prova disso é o facto de pela primeira vez ter sido eleito um Presidente da República à primeira volta (obviamente não conto com as reeleições.).
A vitória de Cavaco Silva é estrondosa e mostra como o Povo quer rigor, independência, correcção, boa educação e valores éticos e morais. A direita tem um espólio ideológico muito próprio de competência e seriedade que foi, afinal, o expressar dos portugueses.
Confesso que acho piada quando vejo dizer que a vitória de Cavaco foi tangencial, porque por 60000 votos... quase se esquece que teve de facto 60 000 votos a mais que todos os outros candidatos juntos!!
Parabéns Portugueses, Parabéns Portugal. Esta foi a consagração de um homem que transformou Portugal no país desenvolvido que se tornou, até à fase negra do guterrismo despesista. Os portugueses sabem bem o que querem. E quiseram Cavaco como Presidente de todos nós.

domingo, 22 de janeiro de 2006

Pronto então.

Já está. Aquilo que eu achava que ia acontecer confirmou-se. Por uma margem mais pequena do que eu esperava, mas confirmou-se:
CAVACO SILVA -- 2.739.331 votos (50,59%)
Tenho de dizer que me impressiona que um candidato que, claramente, se esforçou por manifestar o mínimo de opiniões, que se quis comprometer o mínimo possível e que quis revelar o mínimo de si ou do que pretendia fazer se fosse eleito recolha tantos votos à primeira volta.
Por outro lado, ocorreu uma surpresa muito interessante:
MANUEL ALEGRE -- 1.122.125 votos (20,72%)
Surpresa ainda mais interessante quando comparada com o resultado de outra candidatura de esquerda:
MÁRIO SOARES -- 776.618 votos (14,34%)
Para mim, o que se retira desta campanha é que, quando bem gerido, o silêncio pode valer realmente ouro. Estou sinceramente convencido que, se as eleições fossem apenas em Fevereiro ou mais tarde, Cavaco Silva não teria ganho à primeira volta.
Por muito grande que fosse a mística e admiração que granjeou durante estes 10 anos de silêncio, esta não resitiria mais tempo sem que este viesse "mais vezes a jogo" ou manifestasse a sua opinião relativamente aos assuntos sobre os quais era questionado.
Além disso, parece-me que, tal como diz o meu amigo Afonso a propósito da sondagem que fizemos, é hoje claro que os portugueses não confiam nos partidos portugueses.
Foi exactamente por isso que Cavaco Silva não se quis associar ao PSD. Do mesmo modo, a elevada votação de Manuel Alegre tambem teve a ver com isso. Até porque lhe permitiu passar uma imagem de candidato um pouco "contra o sistema".
E é realmente triste que entidades destinadas a tornar a Democracia mais eficaz e forte sejam vistas desta forma pelos portugueses. Algo tem de mudar rapidamente.
Por último, acho extraordinariamente interessante (digo interessante e não revoltante porque não sou militante do PS) esta cultura de desresponsabilização que agora existe no PS.
Mais uma vez o PS sofre uma derrota política sem que haja verdadeiras consequências políticas.
Não falo de consequências para o candidato, como é óbvio. Esse nunca lhes poderia escapar.
Falo antes de consequência para os membros da estrutura partidária. Tal como ocorreu nas autárquicas, o partido socialista sofreu uma enorme derrota e não surge ninguém para assumir responsabilidades, para dizer "nós erramos" ou "nós decidimos mal".
Sinceramente, aquando das autárquicas, eu esperava a demissão de Jorge Coelho do cargo de Coordenador Nacional Autárquico, já que parte da derrota lhe era directamente assacável por força de más decisões estratégicas.
E, apesar de não esperar qualquer demissão hoje, esperava que algo mais.
O Partido Socialista apostou, claramente, no militante errado. Se tivessem apresentado uma frente unida atrás de Manuel Alegre, em vez de lançar outro candidato e desperdiçar energia, tempo de antena e paciência dos eleitores a atacá-lo, certamente que o desgaste da imagem de D'Sebastião retornado de Cavaco Silva teria tido um desgaste muito maior.
Houve, claramente, um erro de casting do Partido Socialista. Mas parece que a culpa vai voltar a morrer solteira. Certamente que já está habituada a isso neste país....

Que grande lata!

Apetecia-me falar das eleições, mas como não há resultados oficiais e ainda há algumas urnas abertas, vou-me abster (de comentar, não de votar).
Em vez disso vou apenas partilhar um episódio com quem tiver a paciência de ler (paciência especialmente admirável depois de tão poucos posts nos últimos tempos).
Ontem estava a ver o telejornal do Canal 1 e dou por mim a ver o pivot a anunciar que no domingo (hoje) iam fazer um programa especial de cobertura das eleições. Até nos "levaram" aos estúdios onde isso ia acontecer e entrevistaram os pivots envolvidos e o produtor responsável pelo programa.
Eu não sei se isto vos merece algum comentário, mas, a mim, deixa-me totalmente desorientado.
Como se já não bastasse o facto de os telejornais durarem uma hora (quando só há verdadeiras notícias na primeira meia-hora), agora temos que "gramar" com publicidade no próprio telejornal????
É que quando era a TVI a fazê-lo, eu ficava incomodado, mas não podia verdadeiramente dizer que era um choque, já que a TVI nunca teve um verdadeiros telejornais (basta pensar nas entrevistas do pessoal do Big Brother ou na postura da Manuel Moura Guedes).
Mas ver o Canal 1 recorrer a tal expediente chocou-me muito.
O facto de hoje ser transmitido um programa sobre as eleições não é uma notícia de interesse público seja qual for a nossa visão de interesse público.
E ao transformarem algo que não tem interesse público em notícia só para servir os seus interesses, só para se auto-promoverem, só para tentarem ganhar aquele ponto extra de share estão a manchar completamente a imagem de imparcialidade e isenção pela qual a classe jornalística tanto luta.
Mesmo que seja uma deturpação inofensiva, fica sempre a pergunta: "Se eles cruzam esta fronteira por isto, em que situações mais estarão dispostos a fazê-lo?"
Não estou a escrever este post com o espírito alarmista de quem diz (como o diz o Pres. da Região Autónoma da Madeira) que os meios de comunicação estão todos sob o controlo de terceiros e é preciso ter cuidado com eles.
Mas, honestamente, esperava mais dos profissionais do Canal 1. E, acima de tudo, acho que nós merecíamos mais respeito que isto.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Resultado da Sondagem

50% dos nossos leitores entenderam que os Partidos Políticos, nas eleições presidenciais, devem apenas apontar aos seus militantes o candidato que apoiam, sem intervir na campanha eleitoral.
A meu ver, esta posição é sintoma da descrença geral nos partidos e no clientelismo que eles representam: Não está certo que as pessoas precisem de um partido para chegar aos lugares onde a competência devia bastar.
Assim, parece que hoje, tudo em que os partidos tocam, não interessa, está sujo... As pessoas hoje têm vergonha de assumir se são ou não parte de uma força política...
Algo está mal.