sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Marcello Caetano: 100 anos depois

Ontem comemorou-se o centenário do nascimento de Marcello Caetano, último Presidente do Conselho de Ministros do Estado Novo, facto que foi acompanhado de grande destaque pela televisão pública e privada, com documentários e notícias sobre a sua vida e obra. Culminando até com uma grande entrevista à sua filha na RTP1.
Das comemorações, retive duas coisas:
1.º Que começa a passar aquela infantilidade revolucionária de renegar a história quando a história não é revolucionária. Pela primeira vez, assisti a uma verdadeira homenagem a um grande líder do Estado Novo sem insultos ou manifestações de revolta.
2.º Que Marcello Caetano foi um grande homem. Um grande administrativista (quem é o jurista que nunca teve de consultar as suas lições?) e um grande estadista. Ao ter visão europeia, procurou democratizar o regime, mandando regressar a Portugal exilados como Mário Soares, admitindo deputados liberais como Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Mota Amaral, extinguindo a PIDE, reformulando a censura da imprensa e negociando secretamente com os beligerantes do ultramar a independência progressiva dos territórios.
No fundo, abrindo os espaços que eram necessários para a preparação de uma revolução: é que sempre que se tenta democratizar uma ditadura, cria-se margem para o seu derrube.
As "Conversas em Família" que protagonizava na RTP foram inéditas, pois pela primeira vez o poder tentava explicar ao povo o que fazia e como fazia, criando uma proximidade nunca antes vista.
No fim, com a sua morte solitária no exílio do Brasil, fica a história de um grande homem que acabou por ser injustiçado pelo período revolucionário, pois a história recente equiparou-o a um déspota quando se tratou apenas de alguém que quis dar à Nação um regime mais aberto.
Ao contrário de Américo Thomaz, nunca Marcello Caetano requereu o seu regresso a Portugal no pós-25 de Abril e diz quem o conheceu que nunca mais um sorriso se viu na sua cara desde que chegou ao Brasil.

2 comentários:

  1. A verdade, pelo que vi ontem, é que Portugal não soube dar o devido valor ao homem que Marcello Caetano foi...perdeu-se uma personalidade ilustre e uma mente brilhante que tanto podia ter feito!
    Apesar de "renegado" pela sua própria pátria Marcello não baixou os braços e abraçou o país que tão bem o acolheu e que lhe ofereceu o que Portugal lhe podia ter oferecido...

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  2. Gran amigo del profesor Lopez Rodo

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