terça-feira, 5 de julho de 2005

País da forma

Há uns tempos discutia política com um amigo meu da área de ciências que, a dado ponto na conversa, me disse: "isso dos partidos políticos um dia vai acabar". Este meu amigo é da opinião que "um dia os governantes serão orientados por critérios de eficácia", "reunindo-se, discutindo as várias soluções e escolhendo a melhor para o país".
Apesar de considerar esta visão bastante utópica, a verdade é que me parece que os sistemas políticos se deveriam aproximar o mais possível desta fórmula, abstraindo-se os governantes o de todos os factores externos e subjectivos a cada questão.
Só que o nosso país não dá mostras de querer ser uns dos primeiros a atingir este objectivo.
Na verdade, algumas das questões políticas mais relevantes dos últimos tempos só parecem revelar o contrário.
Quando deveríamos estar a discutir as medidas necessárias para combater o défice ou para dar novo fôlego à economia, ficamos a discutir uma gafe no relatório da "Comissão Constâncio". E o mais ridículo é que as gafes apenas trazem um diferença de 0,10%...
Quanto a este particular, estou completamente de acordo com a criação de um instituto (ou qualquer organismo semelhante) que nos poupe a estas discussões estéreis que apenas os economistas conseguem acompanhar devidamente.
A mesma obcessão com questões superficiais sucedeu quanto à anuciada decisão de realizar o referendo do aborto provavelmente no início do Verão. Durante dias o que se discutiu foi se era ou não uma estratégia para o governo desviar as atenções dos problemas com o orçamento.
Gostava muito de viver no País da substancia e não no País da forma...

5 comentários:

  1. Esse comentário do teu amigo... cheira-me a Ivo! ;)

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  2. só pode mesmo ter sido o Ivo.
    Lembra-te de como poderemos chegar a esses "governantes"... escolhidos por quem? quem avalia que serão os melhores?
    Outra coisa, o teu "amigo" é matemático e fála-nos de eficácia mas se falares novamente com ele e debaterem o que para vós é eficácia para um Governo logo verás como é impossível pensar num modelo assim.Ou fala com o Afonso... não é nada de pejorativo em relação a algum deles, longe disso, as opiniões é que serão claramente divergentes

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  3. Concordo plenamente. A pessoa responsável por esses comentários tem de se chamar Ivo, ser da Figueira e gostar de Matemática. A propósito deste "mundo ideal" desse nosso amigo, recordo que ele mesmo defende um sistema judicial muito semelhante a este sistema político apartidário: um sistema onde não haveria a intervenção de advogados (lá se iria o nosso ganha pão), mas apenas um colectivo de três magistrados que, de uma forma dialogante com as partes e respectivas testemunhas, procuraria encontrar a solução mais justa e equitativa pro litígio.
    Em face de utopias como esta, em relação às quais todos sabemos que eu dispendi várias horas da minha vida a tentar demonstrar que tal sistema é irrealizável para além de ser impossível na maioria das situações chegar a um consenso, sem resultados nenhuns porque, admito, fui vencido pelo cansaço, a única coisa que me apraz dizer é que rezemos todos à noite para que este nosso amigo nunca tenha no futuro um cargo de responsabilidade política que lhe permita tentar por em prática tais ideias.
    Mas todos nós gostamos muito dele não é verdade? ;)

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  4. Como autor do post vejo-me obrigado a repor a verdade. Apesar de parecer algo susceptível de ter sido dito por esse grande amigo meu, a verdade é que foi outro grande amigo meu da área de ciências: o Ricardo (meu actual colega de casa).
    (Por incrível que pareça tenho mais que um amigo nessa área.)
    Quanto à ideia em si, não me esqueci que a política é dirigida por Homens, que, como Homens que são, têm muitos defeitos, incluindo o da falta de objectividade.
    Só gostava que as coisas fossem um pouco mais objectivas, que houvesse menos demagogia, esse tipo de coisas...
    Mas já sei que é uma ideia completamente utópica. Infelizmente.

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  5. Mas que uso abusivo do meu nome.
    Acho que deve existir aqui matéria suficiente para vos processar a todos.

    Para começar devo dizer que me parece ser um exagero pessimista e conformista considerar uma utopia a política transformar-se num domínio mais técnico e menos demagógico (basta olhar para os exemplos dos países do Norte da Europa). No passado é provável que muitas pessoas tenham considerado uma utopia a extinção da escravatura, no entanto, graças aos avanços científicos ela aconteceu (sim, graças aos avanços científicos!). Utópico é conseguir acabar com a fome e com a violência no Mundo, utópico é o Benfica conseguir ganhar a Liga dos Campeões, utópico é existir um advogado de sucesso com princípios morais.
    Agora que já consegui atingir todos os presentes posso prosseguir. :) Também vos tenho de dizer que acompanhar a vida política portuguesa de forma tão séria e interessada não vos faz bem à saúde. Já que é tão difícil acabar com a demagogia devemos então apreciá-la pelo espectáculo em si. A política pode ser tão divertida. É claro que os nossos políticos ainda estão um bocado longe do nível do grande político cómico George W. Bush, mas já cá existem alguns performers de boa qualidade, como por exemplo o Alberto João Jardim. Muito mais cidadãos portugueses se interessariam pela política portuguesa se ela fosse mais divertida. Fiquem bem, beijos e abraços, e não se esqueçam desta máxima, "a irresponsabilidade traz felicidade".

    Ah, e para ti, Magalhães, mesmo assim ainda conseguiste acertar em dois dos teus três prognósticos, nada mau! O Ricardo também é da Figueira da Foz e é muito provável que também goste de Matemática. ;)

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