terça-feira, 3 de outubro de 2006

O Islão e o Mundo Ocidental

Pensei muito antes de me decidir a expressar a minha opinião de forma clara, aberta e principalmente frontal sobre este tema, não por receio de que ele seja lido por alguém de natureza muçulmana, mas porque, cada vez mais na sociedade ocidental (principalmente europeia), se resolveu adoptar uma actitude de desculpabilização e de defesa face às atrocidades cometidas por terroristas (que não têm outro nome) islâmicos, que eu considero a todos os títulos condenável.

Tudo se despoletou com as caricaturas dinamarquesas a Maomé, que se fossem de qualquer outro lider religioso, como por exemplo o Papa, não levantavam um décimo da celeuma que por aqui grassou (lembrem-se todos que o Papa já foi caruicaturado com preservativos no nariz e ninguém se insurgiu, nem as coisas tomaram as proporções de após as caricaturas). Nessa altura, teve de haver pedidos de desculpas públicos ao povo muçulmano, que, como são muito civilizados, apenas atacaram e incendiaram indesculpavelmente várias embaixadas dinamarquesas em vários países desse lado do globo. Alguma voz do mundo ocidental se levantou para condenar publicamente esses actos e exigir também publicamente pedidos de desculpas e a condenação dessas actividades criminosas? Claro que não, não vale a pena correr o risco de potenciar um 11 de Setembro na Europa, pois não? Vamos lá deixá-los sossegadinhos e acusar esses bárbaros caricaturistas de atearem fogo à gasolina.

Depois, quando tudo parecia mais calmo, eis que um Papa terrorista, no meio de uma aula numa universidade alemã e perante alunos universitários, decidiu afrontar mais uma vez o povo islâmico e cometeu a loucura de, citando um imperador Bizantino, defender que a religião não se deve impôr pela força, o que ainda parece acontecer no mundo islâmico, e pugnar pela tolerância intra-civilizacional e intra-confessional (isto depois do seu antecessor ter, e muito bem, pedido desculpas públicas pelos actos selvagens cometidos pela Igreja Católica na altura da Inquisição e das Cruzadas, em que essa Igreja Católica procurava, precisamente, impor-se aos outros povos pela força). Mas o que é isto? Nova afronta aos coitados dos muçulmanos que, proporcionalmente, incendeiam umas quantas Igrejas e matam umas quantas freiras. De quem é a culpa? Obviamente do Papa que não soube estar calado, pelo que se exigem novos pedidos de desculpas por essas bárbaras palavras, o que acontece. E as freiras? E as Igrejas? Naturalmente mereceram ser sacrificadas, o que é desculpável pelo facto de quem o fez estar simplesmente a responder a uma afronta pública e de terem sido provocados.

Agora chegamos ao cúmulo de, por medo de mais retaliações, cancelarmos manifestações artísticas de inegável beleza e profundanmente inocentes (veja-se o cancelamento de uma ópera de Mozart numa sala de espectáculos de Berlim, só porque faz algumas alusões a Maomé que podem ser mal interpretadas) ou cancelarmos manifestações culturais com tradição secular (como uma tradição Valenciana em que no fim se expludiam com cabeças de gigantones representativos de personagens como Poseidon, o tal Maome, o Papa e outros, e que este ano foi cancelada), em nome de uma Paz com o Islão e sempre com a argumentação de que não devemos mexer no enchame de abelhas para não corrermos o risco de sermos picados.

Ora, por amor de Deus! Até quando vamos continuar a desculpar todas as atrocidades cometidas por alguns terroristas que não entendem que devemos ser livres de expressarmos o que nos vai na alma? Até quando iremos cercear a nossa liberdade de expressão, que tanto custou aos nossos antepassados a conquistar, em nome de uma falsa e enganadora Paz? Até quando iremos procurar nos terroristas norte-americanos a desculpa para todos os males que nos afectam? Até onde nos levará este medo que inclusivamente começa a condicionar os nossos costumes e tradições? Quando iremos nós dar finalmente o grito e dizer que não permitiremos que a nossa liberdade que nos custou tanto a ganhar seja aniquilada por uma religião atrasada na sua evolução em 5 séculos?

Veja-se que agora algumas mentes brilhantes chegaram ao cúmulo de inventar certas teorias conspiratórias com o objectivo de tentar demonstrar que, por exemplo, o 11 de Setembro não foi mais do que um plano maquiavélico concebido pelas mais altas instâncias norte-americanas (no fundo serão sempre eles os responsávies por tudo de errado que aconteça no planeta) e não um ataque hediondo e desumano que não teve outro objectivo que não fosse a morte de cidadãos comuns daquele país. Sempre esta ideia de desculpar o terrorista e atacar o núcleo de todos os males, os EUA, esquecendo-se inclusivamente a reivindicação do atentado feita pela Al-Quaida.

Penso que está na altura de mudar mentalidades e de reconhecer os males de onde eles vêm e não procurar manter uma falsa e aparente paz, até ao dia em que sejamos nós as vítimas de um 11 de Setembro europeu. Ou de outro 11 de Março. Ou de outro 7 de Julho.
Claro que isto não se aplica a todo o mundo muçulmano, talvez seja mesmo uma minoria, mas é uma minoria à qual devemos dizer basta, assim como o dizemos a todos os grupos extremistas ocidentais. Terrorismo é terrorismo, venha de onde vier, e deve ser combatido de forma igual e nunca ser desculpabilizado.

7 comentários:

  1. Será que somos apenas livres de... não incomodar?

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  2. Por muito que me apetecesse discordar de ti (para dar azo a uma das nossas costumadas discussões) não consigo.
    Assim como concordei em absoluto com Durão Barroso quando este censurou os líderes europeus por não apoiarem o Papa aquando da última "afronta" à comunidade muçulmana.
    Que os diplomatas engulam sapos para aplacar o orgulho dos líderes muçulmanos, é algo que se aceita (no fundo, é essa a função deles), mas é algo totalmente diferente (e inaceitável) deixarmo-nos condicionar pela radicalismo de terceiros.
    Afonso: Tinha a ideia que achavas mal desrespeitar os muçulmanos representando o seu Profeta...

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  3. A confusão só acontece quando se confunde preconceito com constatação de factos. O que relatei (como o incendear de igrejas e o matar freiras) são factos e foram praticados por individuos muçulmanos em retaliação às palavras "ofensivas" do Papa. Tentar escamotear isto, que é para todos por demais evidente, é apenas mais um episódio da nova moda ocidental de desculpabilizar o indesculpável, desde que tenham sido muçulmanos quem tenham praticado tais factos.
    Não existe qualquer preconceito da minha parte em relação a nenhum muçulmano, apenas procuro afastar-me da corrente proteccionista em voga e manter a honestidade intelectual de condenar qualquer tipo de actuação terrorista, independentemente dos seus autores, pois como disse "terrorismo é terrorismo, venha de onde vier, e deve ser combatido de forma igual e nunca ser desculpabilizado".
    Não sou ignorante ao ponto de dizer que todos os muçulmanos são terroristas, mas tenho a honestidade e "coragem", que hoje parece faltar a muita gente, para, não confundindo preconceito com factos, expressar a minha revolta face à tendência vigente para branquear verdadeiros ataques terroristas praticados por muçulmanos, sempre com o argumento de que nunca o teriam feito se não tivessem sido levados a tal por esta ou aquela conduta do mundo ocidental.
    O tom irónico (e não preconceituoso) do meu discurso tinha como objectivo, como se aprende no secundário quando se estuda a figura de estilo que é a ironia, chamar à atenção (reforçar) para a ideia de que se estão a cometer atrocidades todos os dias e de que devemos ter consciência disso, procurando reagir (e não aceitar passivamente) contra o escalar dessa violência gratuita.
    Não perceber isto é mais uma vez tentar, por medo ou por qualquer outro sentimento ainda mais incompreensivel, tapar o sol com a peneira e procurar ignorar problemas sérios, esperando que se estivermos muito caladinhos talvez eles desapareçam.
    Não estou para isso!!!

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  4. Irrita-me sobretudo a discriminação positiva. É politicamente incorrecto falar do terrorismo cometido por (alguns)muçulmanos (e sublinho alguns para não me apelidarem de preconceituosa); mas já discorremos alegremente contra os EUA, essa nação demoníaca!

    Esclareça-se: terrorismo não tem raça, cor ou credo e deve ser condenado, sempre.

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  5. Não tem nada que agradecer, pois é sempre um prazer explicar as minhas ideias (que não teorias) a quem não as compreendeu à primeira. Pena é que, mesmo depois de eu ter explicado uma segunda vez, e penso que o fiz em português correcto, ainda não me consegui fazer entender.
    E como tenho a certeza que se tentar explicar uma terceira vez, mesmo assim não me irá compreender, eu desisto!

    De qualquer forma nunca é fácil rebater as ideias de quem se limita a adjectivar negativamente as opiniões expressas pelos outros ("lógicas como a sua, tão simplistas, são preconceituosas e contraproducentes"). Seria muito mais fácil fazê-lo se eu conseguisse vislumbrar nas suas intervenções um facto que fosse que me permitisse deduzir o sentido e alcance das mesmas, mas como não é isso que acontece continuo sem perceber a sua verdadeira posição sobre esta questão.

    De facto, aquando das notícias de mais esse ataque terrorista perpetrado por muçulmanos, ninguém com responsabilidades veio defender os seus autores (também era só o que faltava). Mas, a verdade é que se continuou a exigir explicações e desculpas ao Papa e ninguém o fez em relação aos autores dessa barbárie. O mesmo se pode dizer quando foram feitas as caricaturas e, em resposta, foram incendeadas umas quantas embaixadas, pois, também aí, quem verdadeiramente foi perseguido foram os autores das caricaturas e os editores dos jornais onde as mesmas foram publicadas.
    É esta diferença de tratamento que me irrita.
    Alguém dúvida que se os autores de tais ataques terroristas fossem, por exemplo, neo-nazis contra judeus era o fim do mundo (e muito bem)? Alguém dúvida que a comunidade internacional ia exigir responsabilidades aos autores de tais atrocidades? Então porque é que não se fez o mesmo quando foram muçulmanos a fazê-lo?
    Será isto preconceito? Na minha humilde opinião (ou teoria) não é, trata-se unicamente de tratar o igual de forma igual, mas aceito que haja quem o considere preconceito.

    Mas nem sequer era minha intenção levar a discussão para este campo. O que queria era dizer que me revolta que se acabem com tradições seculares ou que não se promovam espectáculos culturais com medo de que possamos ferir susceptibilidades só pelo facto de tais tradições ou espectáculos envolverem de qualquer forma o profeta Maomé.
    Irrita-me que percamos a nossa identidade e a nossa liberdade só porque existe uma minoria que não aceita irracionalmente as posições dos outros.
    E irrita-me ainda mais que, perante este cenário, ainda haja quem defenda que devemos é estar quietinhos para ver se não perturbamos o Papão Muçulmano.

    Chame-lhe o que quiser, eu gosto muito de poder expressar a minha opinião livremente ainda que tal seja, hoje em dia, politicamente incorrecto e que, por isso, haja quem o confunda com preconceito.
    Nesse aspecto concordo com a Mariana, tratando-se de forma desigual o que merece o mesmo tratamento, estamos, sem justificação nenhuma, a fazer uma discriminação positiva.

    Repito pela terceira e última vez: penso que devemos condenar todas as fornmas de terrorismo, venha de onde vier, e ultimamente tem vindo de alguns membros da comunidade muçulmana - agora se há quem chame a isto preconceito ... então admito SOU PRECONCEITUOSO E NÃO GOSTARIA DE SER DOUTRA FORMA

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  6. Posso só intervir para dizer que adorei este momento de discussão democrática?
    Será que no mundo muçulmano isto poderia acontecer?
    Depois de tantos bons contributos, deixo só a interrogação?

    E já agora.... beijo grande para ti, amigo, desta prisao tão moderna com rede wireless

    Sofia

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