domingo, 22 de janeiro de 2006

Pronto então.

Já está. Aquilo que eu achava que ia acontecer confirmou-se. Por uma margem mais pequena do que eu esperava, mas confirmou-se:
CAVACO SILVA -- 2.739.331 votos (50,59%)
Tenho de dizer que me impressiona que um candidato que, claramente, se esforçou por manifestar o mínimo de opiniões, que se quis comprometer o mínimo possível e que quis revelar o mínimo de si ou do que pretendia fazer se fosse eleito recolha tantos votos à primeira volta.
Por outro lado, ocorreu uma surpresa muito interessante:
MANUEL ALEGRE -- 1.122.125 votos (20,72%)
Surpresa ainda mais interessante quando comparada com o resultado de outra candidatura de esquerda:
MÁRIO SOARES -- 776.618 votos (14,34%)
Para mim, o que se retira desta campanha é que, quando bem gerido, o silêncio pode valer realmente ouro. Estou sinceramente convencido que, se as eleições fossem apenas em Fevereiro ou mais tarde, Cavaco Silva não teria ganho à primeira volta.
Por muito grande que fosse a mística e admiração que granjeou durante estes 10 anos de silêncio, esta não resitiria mais tempo sem que este viesse "mais vezes a jogo" ou manifestasse a sua opinião relativamente aos assuntos sobre os quais era questionado.
Além disso, parece-me que, tal como diz o meu amigo Afonso a propósito da sondagem que fizemos, é hoje claro que os portugueses não confiam nos partidos portugueses.
Foi exactamente por isso que Cavaco Silva não se quis associar ao PSD. Do mesmo modo, a elevada votação de Manuel Alegre tambem teve a ver com isso. Até porque lhe permitiu passar uma imagem de candidato um pouco "contra o sistema".
E é realmente triste que entidades destinadas a tornar a Democracia mais eficaz e forte sejam vistas desta forma pelos portugueses. Algo tem de mudar rapidamente.
Por último, acho extraordinariamente interessante (digo interessante e não revoltante porque não sou militante do PS) esta cultura de desresponsabilização que agora existe no PS.
Mais uma vez o PS sofre uma derrota política sem que haja verdadeiras consequências políticas.
Não falo de consequências para o candidato, como é óbvio. Esse nunca lhes poderia escapar.
Falo antes de consequência para os membros da estrutura partidária. Tal como ocorreu nas autárquicas, o partido socialista sofreu uma enorme derrota e não surge ninguém para assumir responsabilidades, para dizer "nós erramos" ou "nós decidimos mal".
Sinceramente, aquando das autárquicas, eu esperava a demissão de Jorge Coelho do cargo de Coordenador Nacional Autárquico, já que parte da derrota lhe era directamente assacável por força de más decisões estratégicas.
E, apesar de não esperar qualquer demissão hoje, esperava que algo mais.
O Partido Socialista apostou, claramente, no militante errado. Se tivessem apresentado uma frente unida atrás de Manuel Alegre, em vez de lançar outro candidato e desperdiçar energia, tempo de antena e paciência dos eleitores a atacá-lo, certamente que o desgaste da imagem de D'Sebastião retornado de Cavaco Silva teria tido um desgaste muito maior.
Houve, claramente, um erro de casting do Partido Socialista. Mas parece que a culpa vai voltar a morrer solteira. Certamente que já está habituada a isso neste país....

4 comentários:

  1. Bem... finalmente revitalizaram o blog. Já não era sem tempo.
    Rok tens toda a razão.
    Concordo contigo tirando o facto de ser uma surpresa Alegre ficar à frente de Soares.
    A vergonha da noite eleitoral vai mesmo para Sócrates que não teve a decência de deixar Manuel Alegre terminar o seu discurso como sempre se faz e ditam as regras da boa educação. Inqualificável foi também a atitude das televisões ao ampararem o jogo.
    É certo que é o Primeiro Ministro e que, por isso, possa ter o protagonismo mas, naquela altura, não era o Primeiro Ministro a falar, era o líder do PS, da sua sede a falar aos jornalistas.
    Alegre sofreu sempre algum desprezo dos media mas aquela não era noite para isso. Foram pouco mais de 60 000 votos que separaram a tristeza da noite do corolar de uma campanha magnífica e única em Portugal.

    Eu, como bem sabes, não alinho nas críticas aos partidos nem questiono a sua existência pois são elementos essenciaisdo Estado democrático que temos.
    Não creio que seja claro que os portugueses não confiam nos Partidos políticos.
    Cavaco quis-se distanciar mas só em palavras. Usou a máquina do Partido a seu bel prazer só que ficava bem dizer que concorria por todos os portugueses.
    Quanto ao PS, do qual sou militante, teve uma derrota clara, errou na escolha do candidato e em toda a estratégia montada, a começar pela pressão exercida aos seus militantes. A cultura do medo que Alegre referiu no início da sua campanha existiu mesmo, não foi ficção e são estas atitudes que descredibilizam.
    Eu apoiei Alegre e não me arrependo de o ter feito pois demonstrou que é possível mesmo sem máquinas partidárias lutar pelos seus objectivos.
    Foram 60 000 votos, mas também acredito que desta vez à segunda volta Cavaco ganharia pois duvido que o PS tivésse a atitude correcta numa segunda volta e apoiásse sem reservas formalmente e na prática.

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  2. Apesar de já ter escrito demais não posso deixar de salientar algo que sabes me regozija um pouco... e a ti também acho eu.

    Jerónimo de SOusa que foi quem, a meu ver, fez a melhor campanha, teve os melhores discursos, a melhor mensagem, continua a dar cartas dizendo a todos os profetas que há não sei quanto tempo preconizam o fim do PC que ainda existem e estão fortes e coesos.
    O comício no Atlântico foi algo de estrondoso e memorável. A meu ver foi o momento da campanha.
    Por outro lado o BE e o demagogo Louçã conseguiram o suficiente para pagar a campanha. Subestimam o PC e é o que dá.

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  3. Às vezes vejo na esquerda uma arrogância que não entendo. Será que não é claro que foi a vontade do povo? Ou é a esquerda que preconiza a governação por uma "minoria esclarecida"?
    É que estes 60.000 votos não separam Cavaco de Alegre, como pretendem mostrar. Separam Cavaco de todos os restantes candidatos juntos! Os portugueses votaram em Cavaco: mais de metade dos votos expressos.

    A vitória de Cavaco nao é uma vitória do silêncio, mas a consagração de quem deu de si e mudou o país enquanto Primeiro-Ministro; é a vitória do rigor em vez da poesia ou da política.

    É a vitória de Portugal. Porquê? Porque os portugueses assim o querem. Se os portugueses o querem, quem é a esquerda para dizer que não é a vitória de Portugal?

    Viva a Nação!

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  4. Realmente tens toda a razão quando chamas a atenção para o facto de os 60.000 votos em questão apenas separarem Cavaco Silva da vitória à primeira volta e não de Manuel Alegre.
    Mas também te digo que eu nunca falei numa vitória do silêncio. O que eu disse, e continuo a afirmá-lo, foi que o silêncio, quando bem gerido pode realmente ser de ouro.
    E por mais simpatia ou antipatia que Cavaco Silva nos desperte, parece-me inegável que ele procurou manifestar o mínimo de opiniões possível com receio de afastar alguns votantes. Foi uma estratégia que adoptou. Tão legítima como a de Alegre que procurou apresentar-se como Socialista, que luta contra o sistema enquanto piscava o olho à direita. Mas foi uma estratégia que adoptou conscientemente.
    Por último só quero dizer que, na minha opinião, o facto de ele ter sido eleito por mais de metade dos votantes não faz disso uma vitória para Portugal.
    É inegável que é bom para a democracia, que desesperadamente necessita de envolver e dar participação aos cidadãos.
    Para mim, uma vitória para Potugal é algo bom para Portugal. E como eu não tenho a tua fé em Cavaco Silva, reservo-me o direito de opinar sobre se foi vitória ou não daqui a cinco anos.

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