sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

China says "Jump!", Google asks "How high?"

São absolutamente repugnantes as concessões que o Google ao governo chinês decidiu fazer para ter acesso ao enorme mercado que os cerca de 111 milhões de internautas chineses representam.
De acordo com a notícia hoje veiculada pela RTP (http://www.rtp.pt/index.php?article=219796&visual=16), o gigante norte-americano decidiu auto-censurar-se e não disponibilizar serviço de e-mail, de mensagens instantâneas ou de blogues para poder desenvolver a sua actividade nesse país, em vez de actuar a partir dos EUA como vinha fazendo (método que se revelou pouco eficaz, já que o motor de busca era muito lento e muitas vezes bloqueado pelo governo).
Pesquisas que envolvam termos controversos, como "independência de Taiwan", "independência do Tibete", a seita religiosa Falun Gong, proibida por Pequim, ou "protestos de Tiananmen", darão de caras com uma página a informar que a consulta desses conteúdos não é autorizada pelo governo chinês.
Ninguém discute que a internet é um meio que, cada vez mais, precisa de algum grau de controle para não servir de ferramenta de trabalho para grupos terroristas, racistas, etc...
Mas também ninguém discute que uma das maiores forças e vantagens que a internet trouxe à civilização é precisamente a liberdade que dá a todos que a ela recorrem, especialmente a liberdade de expressão. A partilha de pontos de vista, de culturas e de experiências que acrescentou à Humanidade tem uma riqueza incalculável.
Por outro lado, a internet permite uma circulação de informação terrivelmente perigosa para regimes autoritários e repressivos como a China e o Irão (mais um que censura o acesso à internet).
Ver uma empresa, seja ela de que nacionalidade for, limitar essa liberdade, e ainda mais em conivência com um regime como o da China, é profundamente repugnante. Especialmente se tivermos em conta que a motivação principal é aumentar a margem de lucro...
É apenas mais uma razão para não permitirmos que sejam as grandes empresas a gerir o nosso mundo.
Mal posso esperar que o "Quaero" (motor de busca desenvolvido por empresas como a Deutsche Telecom, a France Telecom e a Thompson) comece a funcionar. Só para ver a hegemonia do Google desafiada.

2 comentários:

  1. Inteiramente de acordo mas um pequeno reparo: infelizmente a Google está longe de ser a única. A Yahoo e a Microsoft venderam-se muito antes e a Google, pelo menos, vai avisar os utentes quando os artigos forem censurados. A Yahoo, o ano passado, chegou ao ponto de dar às autoridades chinesas os dados de um blogger que hoje está preso. O editorial do Financial Times de 5a feira conta estas histórias toda, vale a pena ler. JGC

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  2. Nesta situação sou um pouco mais céptico e realista. É perfeitamente normal esta atitude da google. Tudo é uma questão de oportunidade e negócio e a China é o mercado mais atractivo do Mundo por isso é normal que se queira penetrar num tão vasto mercado. Se para isso têm de se limitar paciência.
    A internet é da facto um veículo de grande informação livre e pode ser também o veículo de revoltas num país fechado como o China. Compreende-se também por isso a posição do Governo Chinês.
    Mas não é caso único. No Irão, Iraque, Arábia, Dubai, também aí os governos impõem limitações.

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