sábado, 1 de julho de 2006

O fim do Freitas

A remodelação governamental a que assistimos hoje tem muito que se lhe diga. Primeiro, porque só o mais ingénuo acreditaria na fundamentação apresentada por Freitas do Amaral: quando muito, a cirurgia antecipou a remodelação, mas de modo algum a justifica.
De facto, o que motivou a saída de Freitas do Governo foi a sua desastrosa actuação em todas as pastas, desde o dossier dos emigrantes no Canadá ao incidente diplomático com o Reino Unido aquando da negociação das perspectivas financeiras, passando pelo corte das relações atlânticas.
Acima de tudo, tenho pena que tudo isto tenha sucedido. De facto, nutria uma enorme admiração por ele, personagem fundamental na história da democracia.
Foi ele quem chamou a atenção que a democracia plural admitia a existência da direita, tendo suportado um cerco no palácio de cristal na fundação do CDS ou a destruição das sedes deste durante o Verão quente.
Senhor de uma inteligência incomparável, acaba por ter a sua imagem definitiva e inevitavelmente manchada por esta experiência governativa, que começou mal - quando na campanha eleitoral apelou ao voto no PS - e acabou ainda pior, tendo criado um desnecessário mau estar no seio do Governo quando se ofereceu para candidato do PS à presidência da república.
Finalmente, o Promeiro-Ministro percebeu que era carta fora do baralho e decidiu exonerá-lo. Não me parece é que tenha escolhido bem a alternativa: Luís Amado, de competência inquestionável, parte para a nova pasta com uma imagem já desgastada e com a responsabilidade pelo apagamento completo das forças armadas. Não tem peso político e não tem imagem internacional.
Já a escolha de Severiano Teixeira para a Defesa é de aplaudir, uma vez que se trata de um socialista de seriedade e competência comprovadas, quer pela sua acção nos governos de Guterres, quer pelo seu percurso académico.

1 comentário:

  1. Apesar de concordar com muito do que dizes, nomeadamente com as situações mal geridas por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, acredito no motivo da exoneração: acompanho de perto no escritório alguém com problemas cervicais - já teve que ser submetido a 3 cirurgias´, e efectivamente o sofrimento é gigantesco e a inacapacidade de fazer algo, total!.

    Podes chamar-me ingénua, mas não acredito que se brinque com coisas tão sérias!

    Além dos mais acredito que se fosse desculpa, a carta teria sido jogado de forma a nomear alguém com um maior peso político, e não optar por uma solução remendada, fruto do inesperado.

    Mas isto pode ser apenas a minha ingenuidade a falar!

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