quarta-feira, 27 de abril de 2005

O Congresso do CDS

Se há fenómeno inexplicável na nossa democracia é o facto de os analistas políticos, de todos os quadrantes, se enganarem sempre no que diz respeito ao CDS.
Vejamos a história recente:
Era o partido do táxi e augurava-se-lhe a morte: Chega ao melhor resultado de sempre nas legislativas de 95.
Em 99, augurava-se-lhe a maior descida: Manteve a votação.
Em 2002 seria absorvido pelo PSD, porque Portas já estava esgotado: Sobe o número de deputados e vai parar ao Governo.
No Governo seria foco de instabilidade: no Governo de Santana Lopes, foi o único foco de ESTABILIDADE.
Nas eleições de 2005, todos os comentadores auguravam uma subida extraordinária da votação do CDS: Pois foram perdidos 3 deputados, embora reconquistado o deputado de Viana do Castelo, e iniciada uma crise política com a demissão do líder Paulo Portas.
Neste congresso, tivemos mais uma destas surpresas. Aos olhos de todos, o CDS aparecia como um partido em crise profunda, que ninguém queria reger.
Surpresa das surpresas, aparecem 3 candidatos a líder, uma miríade de moções estratégicas e (perdoem-me a comparação) uma muito maior emoção, expectativa e interesse que no recente congresso do PSD.
Inesperadamente, José Ribeiro e Castro, fundador da Juventude Centrista, um histórico do partido e uma sumidade no discurso, assume a liderança do CDS.
O CDS aparece hoje como o partido de centro-direita responsável, credível e, sobretudo, sem políticos no mau sentido. Não é fácil encontrarem-se no CDS personalidades que sempre viveram agarrados a cargos políticos, na contagem dos votos e nos caciques para chegar mais alto, à semelhança do actual e do anterior Primeiro-Ministro.
Os quadros do CDS são pessoas que têm a sua vida pessoal e profissional, que não precisam da política. Ao contrário, é a política que precisa de quadros como os do CDS.
Além desta qualidade única do CDS, a liderança de Ribeiro e Castro tem ainda outra virtualidade: representa o afastamento definitivo da extrema-direita populista que se colou ao partido na era de Manuel Monteiro. O CDS é hoje um partido centrista (como o foi nas suas origens), democrata-cristão, europeísta convicto, moderado e com cariz governativo.
Depois de Paulo Portas, Ribeiro e Castro representa a machadada final nos vestígios monteiristas, naquele partido bloquista de direita, contra a Europa, contra as políticas sociais, e que quase defendia, qual Partido Comunista, qual Oliveira Salazar, a doutrina do "orgulhosamente sós".
Por fim, não podemos deixar de comparar a audácia de Ribeiro e Castro com a ausência de carisma de Marques Mendes.
Duas lideranças radicalmente opostas que disputam, tendencialmente, o mesmo eleitorado, vão com certeza operar transferências de votos do PSD para o CDS.
Uma palavra final de aplauso para a intenção do CDS (sustentada também por Telmo Correia) de apoiar Cavaco Silva nas Presidenciais.
Um CDS forte por trás de um dos maiores estadistas portugueses vai compensar cabalmente a ausência de carácter que o PSD apresenta hoje.
Parabéns ao CDS. Pelo congresso e pelo brilhante futuro que lhe prevejo. Espero não me enganar, como todos os analistas políticos...
Afonso Patrão

4 comentários:

  1. Aqui está alguém que, relativamente a este aspecto concreto, concorda contigo.
    http://online.expresso.clix.pt/opiniao/artigo.asp?id=24750847
    MGM

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  2. E é capaz de ser, pela primeira vez, um caso em que eu também concordo contigo.
    Teremos, na próxima legislatura, uma coligação PS-CDS?
    Ou uma coligação PSD-CDS?

    Qualquer que seja o caso, o CDS parece estar com bastante mais condições de voltar ao Governo que o PSD...

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  3. MAis do que futurologia diria como o Presidente Sampaio, no discurso do 25 de Abril: "em Democracia tanto se serve o Estado e os cidadãos no governo, como na oposição."

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  4. Não quando a alternativa é ter os socialistas no poder...
    Aí, servir o Estado e voltar ao Governo antes que seja tarde demais....

    hehehe!
    (Brincadeirinha!)

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