Recentemente, o Exmo. Sr. Presidente da República disse que as famílias monoparentais são um risco duplicado de pobreza para as crianças, de 14% para 30%. Que, "para além da felicidade do homem e da mulher, há o filho, a filha". E recomendou que, antes de pensarem na sua felicidade, os pais deveriam pensar na dos filhos (estou a parafrasear, mas creio que era esse o sentido).
Quando ouvi esta frase pela primeira vez, durante os noticiários nacionais, nem queria acreditar. Estaria o Presidente da República a sugerir que os membros da maioria das famílias monoparentais teriam algo a dizer na sua formação? Trocando por miúdos, estaria a sugerir que as famílias monoparentais, constituídas por viúvas, mães ou pais cujo parceiro escolheu abandonar o menor ou outras situações semelhantes, teriam alguma forma de impedir a sua formação e continuar como famílias "biológicas"?
Tal insinuação, em meu entender, representaria uma injustiça atroz. Não só pelo facto de os membros de tais famílias nada poderem fazer quanto à sua "condição" de monoparental, como pelo facto de ser evidente, e até, básico que uma família com dois rendimentos tem menos probabilidades de ser pobre que uma com apenas um rendimento.
Não gosto de mencionar factos pessoais nestes posts, mas sendo membro de uma família monoparental achei especialmente ofensiva a insinuação do Exmo. Sr. Presidente da República.
Contudo, o Exmo. Sr. Presidente da República viria posteriormente explicar a sua afirmação: "O que eu disse foi que cada um tem o direito de encontrar a sua felicidade, mas que nesse processo, de que pode resultar o divórcio, não esqueçam os filhos. O apelo é para que pensem primeiro nas crianças".
A verdade é que disse algo muito diferente disto.
Se era isto que queria dizer, o Exmo. Sr. Presidente da República deveria ter, pelo menos, falado no fenómeno que o divórcio representa na nossa sociedade. Não fez qualquer referência a este instituto, pelo que fico com sérias dúvidas do real sentido das suas palavras ou da sua capacidade de comunicar com os portugueses e de impulsionar a sua política contra a exclusão. É que a luta contra a exclusão tem, necessariamente, de ser desenvolvida por alguém com grande sensibilidade para as questões em jogo.