terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Eu incompetente me confesso - Frei Bento Domingues

Público, Lisboa,28.01.2007

Eu incompetente me confesso para informar como é que isto seria possível, embora saiba que, enquanto ter filhos for um pesadelo, não adianta pensar muito no aumento da natalidade. O sacrifício pelo sacrifício é uma doença. Só o sacrifício que é fruto do amor possível é fonte de coragem. Mas é um exagero pedir às pessoas que desejam filhos viverem em permanente estado de heroicidade. Não adianta queixar-se da cultura hedonista pela falta de generosidade. Quando as empresas e as organizações, através de sofisticada publicidade, incitam aos prazeres mais imediatos e indeferíveis – casas de sonho, carros de sonho, férias de sonho – teremos uma minoria regalada e a maioria acumulando desejos e decepções e adiando sempre, por estas e por outras razões, a altura para ter descendentes.
Mas também incompetente me confesso para desenhar ou sugerir um modelo capaz de configurar uma outra sociedade viável.
2. Eu incompetente me confesso para sustentar que a hierarquia da Igreja fez bem, ao entregar, apenas, às leis da natureza a regulação da natalidade: «A continência periódica, os métodos de regulação dos nascimentos baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos são conformes aos critérios objectivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, estimulam a ternura entre eles e favorecem a educação de uma liberdade autêntica. Em contrapartida, é intrinsecamente má qualquer acção que, quer em previsão do acto conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação» (1).
João Paulo II repetiu até à saciedade esta herança: «As duas dimensões da união conjugal, a unitiva e a procriadora, não podem ser separadas artificialmente sem atentar contra a verdade íntima do próprio acto conjugal. (...) A Igreja ensina a verdade moral acerca da paternidade e da maternidade responsável, defendendo-a das visões e tendências erróneas, hoje, difusas». Está muito consciente de que o Episcopado , em união com o Papa, é acusado de ser insensível à gravidade dos problemas actuais e de perder popularidade e ver os fiéis a afastarem-se cada vez mais da Igreja (2).
Desde 1968, sobretudo por causa desta atitude perante os métodos contraceptivos, ouvimos com frequência um certo tipo de expressões: «sou católico, mas não sou praticante»; «deixei de ser católico ou não posso continuar a dizer-me católico, embora adira aos seus valores»; «Cristo sim, Igreja não». Mas também há muitos que se guiam pela sua própria consciência, que resistem, digam ou não, «nós também somos Igreja».
3. João Paulo II, na encíclica, Evangelho da Vida (nº 73), é peremptório: «O aborto e a eutanásia são crimes que nenhuma lei humana pode pretender legitimar. (...) Portanto, no caso de uma lei intrinsecamente injusta, como aquela que admite o aborto e a eutanásia, nunca é lícito conformar-se com ela».
Parece-me que um Papa que estivesse de acordo com o aborto ou com a eutanásia devia pedir a sua demissão. No entanto, eu incompetente me confesso para, sob o ponto de vista jurídico, julgar se o Estado tem ou não direito a fazer leis que permitem o aborto.
É saudável, é normal que a Lei de um Estado laico não tenha que estabelecer o que é bem e o que é mal sob o ponto de vista religioso. Não desejaria ver os Estados europeus a adoptarem regimes equivalentes aos da Arábia Saudita ou do Irão: o Estado e a sociedade regidos pela lei ou pela ética religiosas. É por isso que talvez não seja um absurdo perguntar aos cidadãos, como agora, em Portugal, no referendo, se se deve responder "sim" ou "não" à despenalização da interrupção da gravidez, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas, realizado a pedido da mulher. Não se trata de saber quem é e quem não é pelo aborto, neste prazo e nestas condições, mas quem é ou não pela penalização da mulher que aborta neste prazo e nestas condições.
É inevitável a pergunta: dentro das dez semanas, já existe vida humana, ser humano ou pessoa humana? Sobre o que é a vida, sobre o que é vida humana, sobre o que é pessoa, as linguagens do senso comum, das ciências, das filosofias e das religiões não são coincidentes. E, no interior de cada um desses ramos do conhecimento, o debate não está encerrado. Para o Padre Anselmo Borges, professor de Filosofia na Universidade de Coimbra, «a gestação é um processo contínuo até ao nascimento. Há, no entanto, alguns "marcos" que não devem ser ignorados. (...) Antes da décima semana, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído. De qualquer modo, não se pode chamar homicídio, sem mais, à interrupção da gravidez levada a cabo nesse período» (3). A embriologia expressa no boneco chinês é uma pura fraude e uma obscenidade.
Parece-me exorbitante ameaçar os católicos, que votem "sim", com a excomunhão. Comparar o aborto ao terrorismo é fazer das mulheres aliadas da Al-Quaeda. A retórica deve ter limites.
Creio que é compatível o voto na despenalização e ser – por pensamentos, palavras e obras – pela cultura da vida em todas as circunstâncias e contra o aborto. O "sim" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez, dentro das dez semanas, é contra o sofrimento das mulheres redobrado com a sua criminalização. Não pode ser confundido com a apologia da cultura da morte, da cultura do aborto, embora haja sempre doidos e doidas para tudo.
Eu, agora, competente me confesso para afirmar: quando, em Portugal, o aborto for obrigatório, abandono o país. Nem mais, nem menos.

(1) Catecismo da Igreja Católica, nº 2370, citando a Humanae vitae, 14: AAS 60 (1968), 490.
(2) Carta às Famílias, nº 12.
(3) dn, 21/01/2007. Sobre esta questão, cf. Miguel Oliveira da Silva, Ciência, Religião e Bioética no início da vida, Lisboa, Caminho, 2006, pp. 53-

O aborto e as estaladas.

"Já repararam que um par de estaladas está sujeito a pena de prisão até 3 anos?

Quantas estaladas são dadas por ano em Portugal?

Quantas delas resultam em penas de prisão? As poucas que resultam em tribunal devem provávelmente acabar em... pena suspensa. Humm ... como o Aborto.

Bem, é a "tal" questão.

É crime?
Sim.
Acontece-me alguma coisa?
Nada.

Talvez uma campanha pela despenalização da estalada?

A dramatização feita pelo "Sim" sobre o estatuto de "Criminoso" e a "Pena de Prisão" é na verdade, um pouco ridícula".

in
O aborto e as Estaladas, por Carlos Novais

IVG: SIM, pela vida

por Ana Gomes, dia 5.02.2007, Público

No dia 11 de Fevereiro vou votar SIM. Determinadamente. Porque levo na cabeça uma cena que não julgava já possível em Portugal, no século XXI: a daquela mãe que chorava, num corredor do Tribunal de Aveiro em 2004, depois de me contar o terror que vivia há anos, desde que a filha adolescente, à saída de um consultório médico, fora arrastada por dois polícias para dentro de um carro, levada ao hospital e forçada a submeter-se a exames ginecológicos.
Na sala ao lado estava a filha sentada no banco dos réus, acusada de aborto - seis anos depois, já casada e gravidíssima. A mãe ficara a saber, no tribunal, que toda a família fora alvo de escutas telefónicas anos a fio. Mas o mais opressor era o medo: que o genro, vizinhos e parentes na vilória onde moravam, descobrissem que estavam ali, tratadas como infames criminosas. «Tenho a vida destroçada, o meu marido já não aguenta mais: ontem insistia que nos enfiássemos os três no carro e nos lançássemos por uma ribanceira abaixo!...»
(...)"

(o restante, para quem tiver interesse, no blog http://causa-nossa.blogspot.com/)

O aconselhamento da mãe que quer abortar

Agora os adeptos do SIM vêm dizer que vai estar a necessidade de aconselhamento e período de reflexão para a mãe que quer abortar.
Só me levanta uma questão: se isso estava no projecto de lei que o PS entregou na AR, porque é que foi retirado da versão final? E se foi retirado da versão final, o que é que nos leva a crer que vai ser recolocado?

Outra questão: porque é que os adeptos do SIM teimam em dizer que a lei que temos vigente é igual à de Malta, Irlanda e Polónia quando é mentira? Nestes países, o aborto é proibido em qualquer condição. Em Portugal, a lei vigente permite o aborto mediante condições. Isto é, temos uma lei igual a 1/3 dos países da União Europeia e que é ipsis verbis a lei espanhola...

Discutir é salutar. Mentir na discussão não é bonito. E todos sabemos que a lei portuguesa não é igual à irlandesa...

sábado, 3 de fevereiro de 2007

O Theatro Circo, em Braga.

Sumptuoso. É a palavra que ocorre desde o primeiro segundo em que se lá entra. Uma restauração digna de ser vista como exemplo a seguir em tantos outros espaços do país. O lustre, os dourados, os camarotes, a iluminação, o papel de parede, tudo nos leva de imediato aos derradeiros momentos da monarquia, e à luxuosidade das óperas antigas.

O que ainda teve um sabor mais especial porque os Swingle Singers, nesta sua segunda vez em Portugal, foram simplesmente brilhantes. Só quem não os conhece não está disposto a fazer os quilómetros que forem precisos para os ver.

Os meus parabéns ao município de Braga. Recuperar um espaço como o Theatro Circo e preenchê-lo com uma programação de valor invejável é não só um motivo de apláuso como devia ser um exemplo para os outros municípios.

É que ainda não me recompuz da demolição (há já quase 20 anos) do Theatro Avenida, em Coimbra, com os seus camarotes, aposentos reais, 2 balcões, e o cheiro do século XIX que se perdeu para sempre.
Está em Braga a prova que estes crimes urbanísticos são evitáveis...

Assim Não (Gato Fedorento)

Imperdível:
http://www.youtube.com/watch?v=myf5ces77PU
(com dedicatória para o Q. Afonso)

Pecados íntimos/Little children

http://cinecartaz.publico.clix.pt/filme.asp?id=158068
De fugir. Há muito tempo que não via um filme tão mau: básico e reaccionário. Inacreditáveis associações entre a pedofilia (?) e o divórcio ou a separação das famílias.
Bom, e estou longe de perceber porque raio a actriz Kate Winslet está nomeada para os óscares. Tem uma interpretação perfeitamente banal.
Que má 6.ªf!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Estar atento

Populismo justicialista
por, José António Lima, no "SOL"

O caso da criança de Torres Novas, do sargento preso e do pai biológico tem sido, como se começa a perceber por estes dias, uma história muito mal contada.
Mas, enquanto se vai acalmando o frémito de comoção que parece ter varrido o país, começa a distinguir-se a verdade dos factos. Os quais revelam que o pai biológico só confrontado pelas autoridades se dispôs, um mês e meio depois do nascimento da criança, fruto de uma relação aparentemente acidental, a fazer testes de ADN para comprovar a paternidade. E que, perante o resultado dos testes, em Janeiro de 2003, tinha a criança um ano, decidiu perfilhá-la e tê-la à sua guarda.
Ao longo destes últimos quatro anos fez inúmeras tentativas para o conseguir. Em vão.Por outro lado, o sargento e a sua mulher, só três meses depois de saberem dos testes de ADN ao pai e à criança tentaram iniciar o processo de adopção, já em 2003. E, desde então, ao longo dos últimos quatro anos, procuraram por todos os meios fugir às decisões judiciais (mudaram de casa, de concelho para concelho, pelo menos cinco vezes...) e impedir que o pai visse sequer a filha.
No decorrer desta saga de quatro anos, o Estado revelou-se nas suas piores facetas. Os serviços de Segurança Social, por compadrio com o casal ou incúria, deram, ilegal e tardiamente, início a um processo de adopção indevido.
As decisões dos tribunais para notificar o sargento e a mulher não foram cumpridas pela PSP que sabia perfeitamente onde o sargento trabalhava. E o caso foi-se arrastando até à inevitável prisão deste.
É por isso de ficar boquiaberto ouvir-se alguém com as responsabilidades políticas e sociais de Jorge Coelho afirmar, com a maior das leviandades, que considera «um escândalo que o sargento Gomes seja mantido sob prisão» e que «temos uma parte significativa dos portugueses a exigir que se faça justiça, que é o que não está a ser feito». O populismo justicialista está de volta. E as crónicas incompatibilidades do PS com a soberania judicial também.

Brilhante!

Sua Excelência o Ministro da Economia (acho que com o novo protocolo de Estado perdeu a Excelência, mas eu mantenho-o. Acho preferível do que "aquele gajo que mexe na economia", que deve ser o próximo protocolo de Estado...) lembrou-se de uma maneira brilhante de convencer os empresários da China a investir em Portugal: os baixos salários dos trabalhadores portugueses.
Estou rendido à argumentação do Sr. Ministro!

Em primeiro lugar, porque falar na China de salários baixos é a mesma coisa que ir para o pólo norte vender cubos de gelo.
Depois porque honra enormemente a economia nacional. Porque não falar ainda na mão-de-obra não qualificada? Será novo intuito do Governo acabar com os subsídios de férias e de Natal?
É impressão minha ou esta declaração é do mais capitalista/fascista que tenho ouvido? Então venha o investimento porque os nossos trabalhadores quase morrem à fome? Invistam que podem explorar à vontade o nosso povo???

É sem dúvida uma forma inteligente de promover o investimento. Acho é que não é totalmente novo. Tenho ideia de ser normalmente utilizada pelo Botswana, Congo, Somália, Paquistão, etc. Tudo exemplos de economias fulgurantes que são, no fundo, o objectivo nacional!

Ao menos serviu para saber que o Sr. Ministro tem de Portugal uma ideia de 3º Mundo e que é nessa qualidade que quer promover a Nação. Muito bem, só para saber.

PS: Queria ver o que aconteceria se tivesse sido um Governo de direita a dizer uma coisa destas...
Queda do Governo pela certa. Mas o nosso povo é assim. Não há problema de lançar mão de brocardos capitalistas a roçar o fascismo, desde que se esteja filiado num partido de esquerda...
Assim, ninguém se importa...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Obscuro

Mais um exemplo de boa legislação e de como quem "se lixa" são os Tribunais:

http://publico.clix.pt/shownews.asp?id=1284231&idCanal=63




Vários processos de abuso de confiança fiscal correm o risco de ser arquivados por força da Lei do Orçamento de Estado para 2007.
Nos últimos dias, alguns contribuintes viram os autos serem "amnistiados" e os entendimentos díspar entre os magistrados está a provocar o caos nos tribunais.Em causa estão as mudanças dos pressupostos do crime de abuso de confiança fiscal.

A Lei do Orçamento de Estado determina que, para o crime se verificar, o arguido deverá ter sido notificado para, no prazo de 30 dias, repor a verdade fiscal e pagar a quantia em falta - acrescida de juros de mora e uma coima. Antes, o crime consumava-se simplesmente com a retenção de imposto e a não-entrega no prazo de 90 dias (ver caixa/nova redacção a negrito).
Diversos tribunais, onde há processos pendentes por aquele ilícito, têm entendido que devem ser arquivados os autos nos quais não se verificou a notificação.
Este entendimento é criticado pelo fiscalista José Luís Sandanha Sanches, que, em declarações ao PÚBLICO, afirmou: "A alteração não é uma amnistia, mas uma forma de resolver o processo mais rapidamente, através da recuperação do montante em dívida". "Arquivar liminarmente gera uma desigualdade terrível entre quem pagou e quem não pagou", alerta, realçando que a competência administrativa para a notificação nos processos pendentes "deve considerar-se transferida para o tribunal".
Este tem sido, aliás, o entendimento de alguns juízes que, perante a alteração da lei, decidiram notificar os arguidos para, no prazo de um mês, liquidarem o imposto em falta, a coima e juros de mora. Para tentarem minorar as consequências, desembargadores de alguns tribunais da relação têm estado a equacionar a situação para definir uma posição convergente.

Segurança social abrangida
Em declarações ao PÚBLICO, o desembargador Joaquim Gomes, do Tribunal da Relação do Porto, revelou que o novo enquadramento do crime de abuso de confiança tanto se aplica a quem não liquide IVA, IRS e imposto de selo como as prestações para a Segurança Social. "De uma "penada", o legislador opera duas modificações relevantes na punibilidade dos crimes fiscais e contra a Segurança Social, quando estão em causa condutas que podem configurar um crime de abuso de confiança". A alteração do enquadramento legal daquele crime foi, realça Joaquim Gomes, "uma pura opção de política legislativa jurídico-penal, com incidência fiscal, tendo o legislador toda a legitimidade para a tomar". "O que se pode questionar", acrescentou, "é se estas razões já não seriam perceptíveis em 2001, quando foi aprovado o Regime Geral das Infracções Tributárias. Até então, tinha havido ensaios para o pagamento voluntário das dívidas fiscais, como sucedeu com vários diplomas, designadamente a Lei Mateus e outras".
O desembargador Joaquim Gomes está preocupado com os efeitos que a introdução da nova norma vai ter. "Vai causar um conjunto de perturbações no desenrolar dos processos que estão em diversas fases, seja em inquérito, em instrução ou em julgamento". E, com alguma ironia, alerta ainda: "Até lá, com estes engulhos" ou "embargos", é natural que a "carruagem" não ande e que nalguns casos descarrile com a extinção do procedimento criminal.
A consequência é óbvia: quem arca com os prejuízos é o contribuinte pagador".

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

IVG

A dirigente parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, veio garantir que, se a despenalização do aborto vencer no referendo, a lei regulamentadora a aprovar pela AR deverá estabelecer um mecanismo de decisão informada e ponderadapor parte das mulheres que desejem abortar. Só posso saudar esta decisão (que defendi no Programa "Prós e Contras"), esperando que ela venha a ser oficialmente confirmada pela direcção do PS e pelo Primeiro-Ministro. Assim se contraria de forma eficaz a acusação de "aborto a pedido" e de "aborto livre" que os adversários da despenalização têm brandido.

Inserido pelo prof. Vital Moreira, no blog Causa nossa

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Mário Soares admite vitória do NÃO

Mário Soares veio dizer que se o NÃO ganhar não é nenhuma tragédia. No fundo, começa a preparar o terreno para uma eventual segunda vitória do não.
Por mais agradável que a ideia seja, não me parece que se vá concretizar. Desta vez acredito que o SIM ganhe este referendo. Mas confesso que me conforta o facto de o SIM ter percebido que não é assim tão simples mudar a lei. E ter percebido que é uma questão tão fracturante que qualquer resultado vai deixar metade do país desiludido.
Por isso cada vez mais acredito: aditar uma alínea ao 142.º despenalizando o aborto por razões sócio-económicas seria não só a solução razoável como aquela que conseguiria um largo apoio do eleitorado e da sociedade (além de que é o modelo que tão bem tem funcionado em França, Inglaterra, Bélgica, etc.).

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Uma família à beira de um ataque de nervos

Fui ver. Já tinha pensado ir, mas confesso que interesse se reforçou com a nomeação para os óscares.
Recomenda-se: bons diálogos, humor, subtileza e gargalhadas.

http://cinecartaz.publico.clix.pt/filme.asp?id=159695

É bom saber que viajo de forma segura para os Açores...



Um avião que saiu de Ponta Delgada com destino a Lisboa foi ontem obrigado a voltar para trás e a aterrar de emergência no aeroporto de Santa Maria, nos Açores. A bordo seguiam mais de 180 passageiros que estão desde ontem à noite à espera de um segundo voo.

Minutos após a descolagem, o Airbus 310 da companhia aérea SATA apresentou problemas no flat da asa direita, um componente que permite ao avião fazer as manobras em segurança.

A bordo seguiam 182 passageiros que cedo perceberam que o avião seguia com um inclinação fora do habitual.

Chegados a Santa Maria os passageiros foram hospedados em dois hotéis locais onde continuam a aguardar um segundo voo com destino a Lisboa.

À SIC a companhia aérea informou que foi necessário enviar do continente uma peça para reparar a avaria e garantiu que, se nada voltar a falhar, os passageiros poderão regressar a Lisboa às 16h00, hora local.

Fonte: Sic Online

Doze razões, por Vital Moreira

Vital Moreira, no Público:
Sou a favor da despenalização do aborto, nas condições e limites propostos no referendo, ou seja, desde que realizado por decisão da mulher, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas de gravidez. Eis uma recapitulação das minhas razões.
1.ª - O que está em causa no referendo é decidir se o aborto nessas condições deve deixar de ser crime, como é hoje, sujeito a uma pena de prisão até 3 anos (art. 140.º do Código Penal). Por isso, é francamente enganador chamar ao referendo o "referendo do aborto" ou "sobre o aborto", como muita gente diz. De facto, não se trata de saber a posição de cada um sobre o aborto (suponho que ninguém aplaude o aborto), mas sim de decidir se a mulher que não se conforma com uma gravidez indesejada, e resolve interrompê-la, deve ou não ser perseguida e julgada e punida com pena de prisão.
2.ª - Não há outro meio de deixar de punir o aborto senão despenalizando-o. Enquanto o Código Penal o considerar crime (salvas as excepções actualmente já existentes), ninguém que pratique um aborto está livre da humilhação de um julgamento e de punição penal. Quem diz que não quer ver as mulheres punidas, mas recusa a despenalização, entra numa insanável contradição. Não faz sentido manter o aborto como crime e simultaneamente defender que ele não seja punido.´
3.ª - A actual lei penal só considera lícito o aborto em casos assaz excepcionais (perigo grave para vida ou saúde da mulher, doença grave ou malformação do nascituro, violação). Ao contrário do que correntemente se diz, a nossa lei não é igual à espanhola, que é bastante mais aberta do que a nossa e tem permitido uma interpretação assaz liberal, através da cláusula do "perigo para a saúde psíquica" da mulher. Por isso, a única saída entre nós é a expressa despenalização na primeira fase da gravidez, alterando o Código Penal, como sucede na generalidade dos países europeus.
4.ª - A despenalização sob condição de realização em estabelecimento de saúde autorizado (por isso não se trata de uma "liberalização", como acusam os opositores) é o único meio de pôr fim à chaga humana e social do aborto clandestino. Esta é a mais importante e decisiva razão para a defesa da despenalização. Nem a ameaça de repressão penal se mostra eficaz no combate ao aborto, nem a sua legalização faz aumentar substancialmente a sua frequência. A única coisa que se altera é que o aborto passa a ser realizado de forma segura e sem as sequelas dos abortos clandestinos mal-sucedidos. Por isso, se pode dizer que a legalização do aborto é uma questão de saúde pública.
5.ª - Se se devem combater os factores que motivam gravidezes indesejadas, é humanamente muito cruel tentar impô-las sob ameaça de julgamento e prisão. É certo que hoje há mais condições para evitar uma gravidez imprevista (contraceptivos, planeamento familiar, etc.). Mas a sociologia é o que é, mostrando como essas situações continuam a ocorrer, em todas as classes e condições sociais, mas especialmente nas classes mais desfavorecidas, entre os mais pobres e menos cultos, que acabam por ser as principais vítimas da proibição penal e do aborto clandestino (até porque não têm meios para recorrer a uma clínica no estrangeiro...).
6.ª - A despenalização do aborto até às 10 semanas é uma solução moderada e, mesmo, comparativamente "recuada", visto que em muitos países se vai até às 12 semanas. Por um lado, trata-se de um período suficiente para que a mulher se dê conta da sua gravidez e possa reflectir sobre a sua interrupção em caso de gravidez indesejada. Por outro lado, no período indicado o desenvolvimento do feto é ainda muito incipiente, faltando designadamente o sistema nervoso e o cérebro, pelo que não faz sentido falar num ser humano, muito menos numa pessoa. Como escrevia há poucos dias um conhecido sacerdote católico e professor universitário de filosofia: "A gestação é um processo contínuo até ao nascimento. Há, no entanto, alguns "marco" que não devem ser ignorados. (...) Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído."
7.ª - Só a despenalização e a "desclandestinização" do aborto é que permitem decisões mais ponderadas e reflectidas, incluindo mediante aconselhamento médico e psicológico. Embora o referendo não verse sobre os procedimentos do aborto legal, nada impede e tudo aconselha que a lei venha a prever uma consulta prévia e um período de dilação da execução do aborto, como existe em alguns países. Aliás, o anúncio de tal propósito poderia ajudar o triunfo da despenalização no referendo, superando as hesitações daqueles que acham demasiado "liberal" o aborto realizado somente por decisão desacompanhada da mulher.
8.ª - A despenalização do aborto nos termos propostos não viola o direito à vida garantido na Constituição, como voltou a decidir o Tribunal Constitucional, na fiscalização preventiva do referendo. No conflito entre a protecção da vida intra-uterina e a liberdade da mulher, aquela nem sempre deve prevalecer. O feto (ainda) não é uma pessoa, muito menos às dez semanas, e só as pessoas são titulares de direitos fundamentais e, embora a vida intra-uterina mereça protecção, inclusive penal, ela pode ter de ceder perante outros valores constitucionais, nomeadamente a liberdade, a autodeterminação, o bem-estar e o desenvolvimento da personalidade da mulher. Mas a punição do aborto continua a ser a regra e a despenalização, a excepção.
9.ª - A decisão sobre a legalização ou não do aborto não pode obedecer a uma norma moral partilhada só por uma parte da sociedade. Ninguém pode impor a sua moral aos outros. É evidente que quem achar, por razões religiosas ou outras, que o aborto é um "pecado mortal" ou a violação intolerável de uma vida, não deve praticá-lo. Pode até empregar todo o proselitismo do mundo para dissuadir os outros de o praticarem. Mas não tem o direito de instrumentalizar o Estado e o direito penal para impor aos outros as suas convicções e condená-los à prisão, caso as não sigam. A despenalização do aborto não obriga ninguém a actuar contra as suas convicções; a punição penal, sim.
10.ª - A despenalização é a solução a um tempo mais liberal e mais humanista para a questão do aborto. Liberal - porque respeita a liberdade da mulher quanto à sua maternidade. Humanista - porque é o único antídoto contra as situações de miséria e de humilhação que o aborto clandestino gera. Quando vemos tantos autoproclamados liberais nas hostes do "não", isso é a prova de que o seu liberalismo se limita à esfera dos negócios e da economia, parando à porta da liberdade pessoal. Quando vemos tanta gente invocar o "direito à vida" do embrião ou do feto para combater a despenalização, ficamos a saber que para eles vale mais impor gravidezes indesejadas (e futuros filhos não queridos) do que a defesa da liberdade, da autonomia e da felicidade das pessoas. Se algo deve ser desejado, devem ser os filhos!
11.ª - Na questão da despenalização do aborto é verdadeiramente obsceno utilizar o argumento dos custos financeiros para o SNS. Primeiro, o referendo não inclui essa questão, deixando para a lei decidir sobre o financiamento dos abortos "legais". Segundo, mesmo que uma parte deles venham a ser praticados no SNS, o seu custo não deve comparar desfavoravelmente com os actuais custos da perseguição penal dos abortos, bem como das sequelas dos abortos mal sucedidos.
12.ª - A despenalização do aborto, nos termos moderados em que é proposta, será um sinal de modernização jurídica e cultural do país, colocando-nos a par dos países mais liberais e mais desenvolvidos, na Europa e fora dela (Estados Unidos incluídos). A punição penal do aborto situa-nos ao lado de um pequeno número de países mais conservadores e mais influenciados pela religião (como a Irlanda e a Polónia). Mas por que motivo um Estado laico deve pautar o seu Código Penal por normas religiosas?
(Público, Terça-feira, 23 de Janeiro de 2007)

domingo, 28 de janeiro de 2007

Dúvida sincera

Sabemos que a questão do aborto seria consensual se o Governo se tivesse limitado a propor uma causa de exclusão da punibilidade por razões sócio-económicas. Toda a gente estaria de acordo com uma despenalização nesse caso. Mas enfim, não foi isso que aconteceu, o que me suscita uma dúvida sincera:
Se, depois do dia 11 de Fevereiro, a mãe vai ter um livre direito a não ser mãe, porque é que o pai não pode ter um livre direito a não ser pai?
Se o pai não quiser o filho, porque tem de o suportar? O Princípio da Igualdade não implicará ou que se permita o aborto a pedido do pai (ainda que contra a vontade da mãe, pois esta tem também tem um direito ao aborto ainda que contra a vontade do pai) ou que se lhe admita não perfilhar uma criança? Estou errado?

Estou a ver uns pais a arrogar-se deste direito em Tribunal... E qui ça, a ganhar...

sábado, 27 de janeiro de 2007

Parabéns ao Devaneios e Desabafos.

Acho que estamos verdadeiramente de parabéns. Este espaço de discussão, porque fundado na amizade e no respeito, tem sido pautado pela maior elevação. Somos coerentes, respeitadores e detentores das mais diferentes opiniões. Mas expomo-las com serenidade e tentamos sempre entender as dos outros.
Por isso, Roque e MGM, é um verdadeiro prazer discutir convosco, ouvir e respeitar as vossas posições. Sou forçado a admitir que são os meus preferidos parceiros de discussão política. Não vos imagino a ridicularizar as opiniões dos outros ou gozar com elas. Discutimos com honestidade intelectual e sem recurso a inverdades.
E estas coisas também se devem dizer.
Ainda bem que existe o Devaneios e Desabafos. Espero que possamos continuar a discutir e a argumentar por muitos e bons anos.
Parabéns a nós!

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Referendo sobre o aborto

Anselmo BorgesPadre e professor de Filosofia


Numa questão tão delicada, com a vida e a morte em jogo, não se pretende que haja vencedores nem vencidos, mas um diálogo argumentado, para lá da paixão e mesmo da simples compaixão. Ficam alguns pontos para reflectir.
1. O aborto é objectivamente um mal moral grave. Aliás, ninguém é a favor do aborto em si, pois é sempre um drama.
2. A vida é um bem fundamental, mas não é um bem absoluto e incondicionado. Se o fosse, como justificar, por exemplo, o martírio voluntário e a morte em legítima defesa?
3. Para o aparecimento de um novo ser humano, não há "o instante" da fecundação, que é processual e demora várias horas.A gestação é um processo contínuo até ao nascimento. Há, no entanto, alguns "marcos" que não devem ser ignorados. É precisamente o seu conhecimento que leva à distinção entre vida, vida humana e pessoa humana. O blastocisto, por exemplo, é humano, vida e vida humana, mas não um indivíduo humano e, muito menos, uma pessoa humana.Se entre a fecundação e o início da nidação (sete dias), pode haver a possibilidade de gémeos monozigóticos (verdadeiros), é porque não temos ainda um indivíduo constituído.Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído.
De qualquer modo, não se pode chamar homicídio, sem mais, à interrupção da gravidez levada a cabo nesse período.
4. Sendo o aborto objectivamente um mal, deve fazer-se o possível para evitá-lo. Tudo começa pela educação e formação. Impõe-se uma educação sexual aberta e responsável para todos, que, não ficando reduzida aos aspectos biológicos e técnicos, tem de implicá-los, fazendo parte dela o esclarecimento, sem tabus, quanto à contracepção.
5. O aborto é uma realidade social que nem a sociedade nem o Estado podem ignorar. Como deve então posicionar-se o Estado frente a essa realidade: legalizando, liberalizando, penalizando?
6. Não sem razão, pensam muitos (eu também) que, se fosse cumprida, a actual lei sobre a interrupção da gravidez, permitida nos casos de perigo de morte ou grave e duradoura lesão para a mãe, de nascituro incurável com doença grave ou malformação congénita e de crime contra a liberdade e autonomia sexual (vulgo, violação), seria suficiente.
7. De qualquer forma, vai haver um referendo. O que se pergunta é se se é a favor da despenalização do aborto até às dez semanas, em estabelecimentos devidamente autorizados, por opção da mulher.Por despenalização entende-se que, a partir do momento em que não há uma pena, a justiça deixa de perseguir a mulher que aborta e já não será acusada em tribunal. Aparentemente, é simples. Mas compreende-se a perplexidade do cidadão, que, por um lado, é a favor da despenalização - despenalizar não é aprovar e quem é que quer ver a mulher condenada em tribunal? -, e, por outro, sente o choque de consciência por estar a decidir sobre a vida, realidade que não deveria ser objecto de referendo. O mal-estar deriva da colisão dos planos jurídico e moral.
8. Impõe-se ser sensível àquele "por opção da mulher" tal como consta na pergunta do referendo, pois há aí o perigo de precipitações e arbitrariedades. Por isso, no caso de o "sim" ganhar, espera-se e exige-se do Estado que dê um sinal de estar a favor da vida.Pense-se no exemplo da lei alemã, que determina que a mulher, sem prejuízo da sua autonomia, deve passar por um "centro de aconselhamento" (Beratungsstelle) reconhecido.
Trata-se de dialogar razões, pesar consequências, perspectivar alternativas. A mulher precisará de um comprovativo desse centro e entre o último encontro de aconselhamento e a interrupção da gravidez tem de mediar o intervalo de pelo menos três dias. As custas do aborto ficam normalmente a cargo da própria.
O penalista Jorge Figueiredo Dias também escreveu, num contexto mais amplo: "O Estado (...) não pode eximir-se à obrigação de não abandonar as grávidas que pensem em interromper a gravidez à sua própria sorte e à sua decisão solitária (porventura na maioria dos casos pouco informada); antes deve assegurar-lhes as melhores condições possíveis de esclarecimento, de auxílio e de solidariedade com a situação de conflito em que se encontrem. Sendo de anotar neste contexto a possibilidade de vir a ser considerada inconstitucional a omissão do legislador ordinário de proporcionar às grávidas em crise ou em dificuldades meios que as possam desincentivar de levar a cabo a interrupção".
As razões do Assim Não

Foi exactamente o que aqui escrevi a 19 de Outubro de 2006...

CIA: Comissão insta Portugal a prosseguir investigações

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=259491

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O caso da Ana Filipa

Factos apurados na sentença que já pus no nosso blog:

1. A Esmeralda nasceu no dia 12 de Fevereiro de 2002;
2. Em 28 de Fevereiro de 2002, a Mãe da Esmeralda entregou-a ao casal Luís Gomes e Adelina Lagarto;
3. A Mãe registou a menor, tendo ficado omissa a menção de paternidade;
4. Consequentemente, foi iniciado uma Averiguação Oficiosa de Paternidade, que corre oficiosamente e que é conduzida pelo Ministério Público;
5. Nesse processo de averiguação oficiosa de paternidade logo em 17 de Fevereiro de 2002, Luís Baltasar, declarou que, se testes hematológicos revelassem ser o Pai da criança, assumiria a paternidade, perfilhando-a;
6. Em Fevereiro de 2003, testes hematológicos confirmaram que o Luís Baltasar era efectivamente o Pai, que, de imediato, perfilhou a menor;
7. A partir desta data, procurou a menor junta da Mãe, que a tinha supostamente em seu poder, no entanto aquela com informações erróneas e equívocas, ocultou ao Luís Baltasar o paradeiro da menor, tendo aquele após sucessivas insistências junto do M.P. da Sertã, vindo a saber que a filha se encontrava a residir com os demandados em Torres Novas, desconhecendo contudo na altura as circunstâncias e motivos de tal situação;
8. Logo que conhecido o local onde se encontrava a filha, o Luís Baltasar procurou-a na casa de residência do referido casal;
9. No entanto, contactado o casal, primeiro telefonicamente e depois pessoalmente, nunca estes permitiram, que contactasse com a filha, não o recebendo, mantendo para tanto a porta fechada exterior, conquanto para o fim vezes houve que viu serem desligados as luzes, não reagindo ao toque da campainha.
Pronto, assentes estes factos, vamos então discutir.

Despacho na NET

Eis o editorial do DN de hoje, assinado pelo Jornalista Eduardo Dâmaso:

O primeiro despacho produzido por Maria José Morgado sobre um caso de alguma substância, o inquérito que envolve o presidente do FC Porto, foi publicado na Internet. Trata-se de uma grosseira violação do segredo de justiça e obriga a Procuradoria-Geral da República a ordenar a abertura de um inquérito. Uma investigação que também obriga a Ordem dos Advogados a seguir o caso com atenção, pois o despacho da procuradora já era do conhecimento das defesas dos arguidos desde quarta e quinta-feira passadas.

Este pormenor é importante para que o debate público sobre este caso não se faça exclusivamente em função do apuramento de eventuais responsabilidades da equipa de Maria José Morgado. É óbvio que aqui há pelo menos alguma paridade ao nível das responsabilidades potenciais pela divulgação do documento, sendo que o crime aproveita de forma muito diferente a uns e a outros...

O debate sobre o segredo de justiça tem sido excessivamente centrado nas responsabilidades de jornalistas, magistrados e polícias. É preciso ter a consciência de que este é também um debate que pode e deve vincular os advogados.
Para lá da violação do segredo de justiça, este episódio ilustra bem os problemas que a equipa de Morgado vai ter pela frente. Passada a fase dos elogios, já está a chegar a tormenta da pressão, da erosão sobre o trabalho da sua equipa, até aqui suficientemente discreta para se blindar de críticas habituais a quem investiga casos complexos, e que Maria José Morgado bem conhece, como protagonismo, exacerbação de poderes, etc., etc...

Joga-se muito no sucesso ou insucesso de Morgado e esse jogo não se circunscreve sequer aos arguidos deste processo. Joga-se o futuro modelo de organização do Ministério Público em matéria de acção penal, ou seja, a questão de saber se uma estrutura como o DCIAP é para continuar ou é substituída por equipas pontuais, com lideranças pontuais, para casos pontuais. Joga-se o reforço ou a aniquilação do "mito" que Maria José Morgado já representa na opinião pública. Jogam-se os termos da relação futura entre poder político, poder judicial e poder do futebol, com alguns protagonistas do poder económico a correr por fora, em particular alguns empreiteiros, mas com manifestos interesses a defender.
Tudo o que já antes se tinha visto no caso "Apito Dourado" e que deu na inacreditável crise da PJ do Porto. Com grandes responsabilidades de governantes, à época de Durão Barroso, magistrados e polícias, equipa de Adelino Salvado na PJ e o próprio Ministério Público sob a liderança de Souto Moura. Repetir uma coisa assim seria um verdadeiro pesadelo!

domingo, 21 de janeiro de 2007

O mau serviço de Paulo Camacho

Lamentável. Ontem o pivot do Jornal da Noite da SIC, Paulo Camacho, recebeu em directo um representante da associação sindical dos juízes, que se insurgiu com a desinformação que a Comunicação Social tem passado no caso de Torres Novas, a que a MGM já aludiu.
Em vez de deixar o Magistrado expor o que realmente se passava (a quem tratava por você, o que já de si é profundamente revelador...), deturpou escandalosamente as suas palavras, cortando-lhe a palavra de forma inacreditável e tirando conclusões que só um populismo inaceitável justifica.
Para noticiário, ficámos mal. Entre a controlada pelo Governo RTP, e as populistas privadas, mais vale ler o jornal no dia seguinte...

Não deixar por mãos alheias

No site que aqui identifico consta a sentença do Tribunal Judicial da Comarca de Torres Novas, mais conhecida por "sentença do militar".
Leitura obrigatória.
Mais uma vez: nada é o que parece!
http://www.verbojuridico.net/

Hillary Clinton anuncia candidatura à presidência dos EUA

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=259142

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Direitos Humanos

Mais uma afirmação da prevalência dos direitos humanos básicos em tempos de insegurança e terrorismo.

Luso-americano indemnizado após ter sido expulso de avião
http://tsf.sapo.pt/online/vida/interior.asp?id_artigo=TSF177019

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Razões de um NÃO responsável.

Já não suporto, não aguento, não tenho capacidade intelectual nem emocional para falar mais do Aborto. E não voltarei a fazê-lo. Pela última vez escreverei agora as razões pelas quais me parece que, jurídica e socialmente, só o voto no NÃO é legítimo, procurando ainda desmontar os argumentos do Sim.

1. A vida humana é reconhecida deste a concepção pelo direito.
A personalidade jurídica começa no momento do nascimento completo e com vida. Mas a personalidade jurídica não se confunde com a personalidade humana nem com a tutela que o direito faz à personalidade humana. Com efeito, um nascituro já concebido goza de direitos de natureza pessoal e patrimonial: pode ter já património, pois é possível deixar em testamento bens a um nascituro; goza de direitos de personalidade, como o direito à honra, à dignidade, à imagem, etc. Se forem violados, o nascituro tem um direito próprio a ser indemnizado.
Ora, se assim é, não é juridicamente coerente conferir todos os direitos de personalidade ao nascituro negando-lhe depois o direito mais fundamental (o direito à vida), entendendo que é a mãe quem livremente optará por conferir-lho ou não!
A liberalização do aborto implicaria, pois, uma total alteração do sistema jurídico, na medida em que não podemos entender o nascituro como sujeito de direitos e obrigações enquanto ser autónomo e depois vir admitir que é a mãe quem decide sobre a vida do feto, como se não existisse vida autónoma. A admitir o aborto livre, há que excluir todos os outros direitos de índole pessoal e patrimonial que o sistema jurídico já consagra à vida intra-uterina.


2. Se admitimos que o feto é vida humana, não podemos admitir o aborto.
Se o feto é considerado sujeito autónomo de direitos e deveres (coisa que ninguém discute), não pode haver razão alguma que justifique o livre acto abortivo. A liberdade da mãe termina no ponto em que começa a liberdade de outrem. Ora, se admitimos que o feto tem direitos próprios, não podemos deixar a um terceiro (a mãe) que opte livremente quanto à sua vida. Porque se assim for, que diferença há entre um feto com 10 semanas e um com 20? Já é vida às 20 e não é às 10? Porquê? Onde está a diferença? É que às 8 semanas é possível determinar o sexo do bebé; às 10 semanas há um coração a bater...
Sermos coerentes é admitir, então, o aborto enquanto o feto estiver dentro do útero.
E mais uma vez pergunto: qual é a diferença entre um feto dentro do útero e uma criança recém-nascida? A dependência da mãe verifica-se nos dois casos. E, então, porque não admitir que a mãe possa matar o recém-nascido quando não tenha condições para lhe dar uma vida decente e íntegra?
A coerência admiti-lo-ia!
Nenhum dos actos é possível porque a mãe não tem legitimidade para decidir sobre a vida de outrem. Seja boa ou má, a vida não é sua, não está na livre disponibilidade da mulher (já chegarei às causas admitidas de aborto...)


3. Não se trata de uma despenalização mas de uma liberalização.
A despenalização consiste na descriminalização de uma conduta que continua a ser proibida. Exemplo: despenalização do consumo de drogas leves. Deixou de ser crime, continua a ser proibido, punido por uma coima, ao nível do direito administrativo.
Aqui discute-se uma liberalização: está em causa saber se o aborto pode ser permitido, livre, até às 10 semanas. Mais, se o Estado deve providenciar o aborto livre até esse momento.
Questão: porque é que a pergunta é "despenalização" e não "liberalização" quando é disto que se trata?


4. Trata-se de "Aborto" e não de "Interrupção Voluntária da Gravidez".
O que está em causa neste referendo é a alteração de um artigo do Código Penal onde se prevê a punição do crime de aborto. É isso que se discute.
Questão: se está em discussão uma norma sobre "Aborto", porque é que a pergunta é sobre "IVG"?


5. Admitir as causas permitidas de aborto e rejeitar o aborto livre não é ser incoerente.
O Código Penal não é uma compilação de normas prevendo crimes específicos. Essa é uma parte do Código Penal, a parte especial. Além da parte especial existe uma parte geral, com disposições a ser aplicadas em todos os crimes.
Ora, um dos princípios da parte geral é o princípio da culpa como limite inultrapassável da punição, bem como o da culpa enquanto pressuposto essencial da punição. Se não houver culpa, não pode haver pena; se a culpa for diminuta, a pena será diminuta.
É por isso que quem roubar para comer ou, melhor, quem roubar para dar de comer aos filhos, não tem qualquer punição! Actuou num "estado de necessidade desculpante", isto é, entende-se que apesar de ter praticado um facto tipificado como crime, não é censurável, reprovável, a sua conduta. Razão pela qual não há pena.
Da mesma forma, há causas de exclusão da ilicitude: se alguém entrar em minha casa para me matar e eu, para me defender, matar o atacante, não serei punido porque agi em legitima defesa. Isto é, entende-se que a minha conduta nem sequer é ilícita, nem sequer é anti-jurídica, pois agi com o intuito de proteger um bem jurídico de valor igual ou superior ao que violei (violei o bem "vida do asaltante" para proteger um de igual valor "minha vida").
Assim, as três causas permitidas de aborto NÃO TINHAM de estar expressamente previstas na parte especial, no concreto artigo referido ao crime do aborto. Isso resultaria da parte geral.
Ainda assim, o legislador entendeu dever explicitá-las.
1- Perigo de Vida da Mulher: É claramente uma causa de exclusão da ILICITUDE. Admite-se que o aborto é lícito porque se pratica com o intuito de proteger outro bem jurídico de valor igual ou superior. Viola-se o bem jurídico "vida do feto" para proteger o bem jurídico "vida da mãe".
2- Violação: Há quem entenda que também aqui se trata de uma causa de exclusão da ilicitude. Considera-se lícito o aborto (violar o bem jurídico "vida do feto") para proteger outro bem jurídico que foi atacado ("auto-determinação sexual da mulher"), de valor igual ou superior.
Por minha parte, parece-me que se trata de uma exclusão da culpa. Isto é, a mulher pratica o facto tipificado como crime mas não é punida porque não há reprovabilidade na sua conduta, entende-se compreensível que a mulher o faça.
3- Mal formação do feto: Exclusão da culpa: a mulher pratica o facto tipificado como crime mas não é punida porque não há reprovabilidade na sua conduta, entende-se compreensível que a mulher o faça, não a sujeitando a uma pena que exprime censurabilidade social.

Pois que incoerência existe em admitir a NÃO PUNIÇÃO da mulher nestes casos e defender a protecção penal quanto ao aborto livre? Nenhuma! É coerente o nosso pensamento.
E não é só o nosso: mesmo a lei francesa, que é apontada pelos defensores do SIM como lei modelo, admite o aborto em caso de "angústia da mulher". Acredito que na prática seja exactamente a mesma coisa que um aborto livre, mas do ponto de vista jurídico há uma grande diferença: é que, em França, entende-se que o aborto é crime, embora em caso de angústia da mulher se exclua a culpa. Não há punição porque, em caso de angústia se entende que não há reprovabilidade da sua conduta.


6- Não é incoerente querer a lei em vigor e não querer mulheres na prisão.
O direito penal não serve para castigar, não serve para aplicar castigos a quem se porta mal. Esse papel caberá a muitas ordens mas não ao Estado. O direito penal serve para prevenir a violação de bens jurídicos. A melhor norma de direito penal será aquela que nunca foi aplicada, pois é sinal que conseguiu prevenir a prática do crime.
Quando não conseguiu prevenir a prática do crime (prevenção geral negativa), a norma penal impõe uma punição, mas não para castigar ou para infligir um mal (finalidade ético-retributiva).
O direito penal aplica uma punição com finalidades preventivas: reintegrar a norma violada, isto é, dar um sinal à sociedade que a norma violada continua em vigor, mas PRINCIPALMENTE ressocializar o agente do crime, isto é, dar-lhe as condições para que possa prosseguir a sua vida sem cometer mais crimes (prevenção especial positiva). Ou seja, a pena a aplicar em cada caso vai ter como função ressocializar o agente, pelo que só será necessária quando o agente tenha necessidades de ressocialização.
Por outro lado, a pena a aplicar terá como limite a culpa da mulher: ora, é facilmente conjecturável que, muitas vezes, não haja um juízo de censurabilidade da mulher que abortou, se o fez em circunstâncias que tornam não reprovável a sua conduta.
Ora, assim sendo, é perfeitamente coerente querer a norma em vigor e intimamente desejar que ela não implique a prisão de mulheres: só implicará se a atitude da mulher for culposa, censurável, e se esta revelar necessidades de ressocialização.
Isso é muito diferente de aceitar um aborto livre, a pedido, sem qualquer razão.


7- A protecção penal do aborto é necessária:
O direito penal só deve intervir quando seja estritamente necessário, isto é, quando nenhum outro ramo do direito conseguir proteger eficazmente o bem jurídico que tenha dignidade penal. Se ninguém discute que o bem jurídico (vida) tem dignidade penal, é já discutível se deve o direito penal intervir, por razões de eficácia. Isto é, se for encontrada uma qualquer outra forma de prevenir o aborto, está deslegitimada a intervenção do direito penal.
Ora, pergunto eu: além do direito penal, que outra forma pode eficazmente prevenir o aborto? Coimas de 30 a 3000 euros? Não me parece... Por isso digo: arranjem-me por favor uma forma de prevenção do aborto.


8- Os circos mediáticos vão continuar mesmo depois do SIM ganhar.
Aqueles lamentáveis circos mediáticos à volta dos tribunais onde decorriam julgamentos pelo crime de aborto e que humilhavam profundamente as mulheres visadas vão continuar. É que todos esses julgamentos eram por abortos cometidos depois das 1o semanas, factos que vão continuar a ser crime.
Que passo vem a seguir?


9- A lei a votar desrespeita profundamente a vida humana.
Antes de me insultarem, queria só alertar que me vou referir ao que a lei permitirá, não o que vai acontecer.
A lei que vai ser aprovada depois do referendo vai permitir que uma mulher vá ao Hospital e diga "Engravidei agora, mas já tenho férias marcadas para Agosto e não me dá jeito nenhum estar de 8 meses nessa altura. Faça-se o aborto". Ou que diga: "estou grávida de uma menina. Como queria um rapaz, vou abortar".
Não estou, obviamente, a dizer que isto vai acontecer, pois espero sinceramente que não. Só estou a dizer que a lei o permite, pois liberaliza qualquer aborto a pedido da mulher. E o facto de a lei o permitir é, para mim, profundamente chocante.


10- O facto de haver aborto clandestino não é argumento.
Aborto clandestino, claro que há. Outros crimes praticados clandestinamente, claro que há - roubos, furtos, homicídios, violações.
O argumento da liberalização do aborto porque ele existe de qualquer forma pode ser aplicado a qualquer crime. Como existem homicídios de qualquer forma, vamos liberalizar. Como existem furtos de qualquer forma, vamos liberalizar.
Não pode ser esse o critério. O critério só pode ser um: é ou não tutelável o bem jurídico "vida intra-uterina".


11- O aborto clandestino não vai acabar.
O aborto clandestino manter-se-á, pois o grande atractivo daquele é precisamente o facto de ser clandestino. Permitir o aborto livre não será motivo para que muitas mulheres continuem a fazer abortos secretamente, não querendo identificar-se num estabelecimento público ou privado de saúde.


Estas são sumariamente (se me lembrar de mais alguma, aditarei) as razões do meu NÃO responsável que me parece a única resposta coerente e juridicamente legítima.

E foi a última vez que falei disto.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Manifestações no Porto pela rede dos STCP

O notável fenómeno de protesto a que assistimos todos os dias no Porto como protesto contra a reformulação da rede de transportes públicos é uma realidade estranha. Aquilo que é um gravíssimo problema para uns é um disparate incompreensível para outros.
Certo é que a população que sente na pele aquele problema se mobilizou e, de forma mais ou menos discutível, tem demonstrado o descontentamento e tudo se conjuga para se lhes dar provimento.

PS: Nota-se muito que estou com ciúmes, dada a inexistência de qualquer queixa face ao fim da Ecovia?

Ass. Afonso, o mais recente utilizador de trolleys (é assim que se escreve?) que levam 40 minutos a deixar-me na Universidade...

Voos da CIA

A questão dos voos da CIA não é uma questão de lana caprina.
Saber se no século XXI, activamente ou por omissão, Portugal pactuou com abomináveis violações dos mais elementares direitos humanos, não é uma questão de somenos.
E confesso que, como cidadã, me interessa especialmente, saber se o meu poder político teve, ou não, nisso alguma participação. Não é apenas pelo argumento sedutor de que, tal como ao Eng. Canadiano, também eu posso "desaparecer" do aeroporto, ficar meses presa, sem acesso a um advogado ou saber do que, em concreto, me acusam. A condenação da tortura, as garantias de defesa e o respeito pelos direitos fundamentais são conquistas civilizacionais - ao que tudo aparenta ainda frágeis - que de que é preciso cuidar.
É, pois, uma questão de princípio, saber se pactuámos ou não com tal infâmia.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

NASA na Lua

Parece que a NASA está a planear instalar, até ao ano 2020 uma base na Lua capaz de acomodar seres humanos por períodos progressivamente mais longos:

http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/6210154.stm

Pessoalmente, acho que esta iniciativa, juntamente com uma aposta contínua na estação espacial internacional, é de louvar, pois possibilita a recolha de informação científica com que no passado apenas se podia sonhar e porque o espaço, como já se percebeu há algum tempo, cria condições e desafios que levam ao desenvolvimento de tecnologias e à realização de experiências cujos resultados são, muitas vezes, utilizados para melhorar a qualidade de vida dos humanos que ficaram "cá em baixo".

Mas para quem que, como eu, via o programa "Para além do ano 2000", não há como fugir àquele sentimento de que já lá podíamos estar há uns tempos se a nossa espécie não perdesse tanto tempo, energia e recursos a tentar exterminar-se.

sábado, 16 de dezembro de 2006

Direitos Humanos

EUA: juiz considera inconstitucional execuções com recurso a injecções letais

http://publico.clix.pt/shownews.asp?id=1279837&idCanal=95

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

A Guerra em Directo

Carlos Fino pode não ter um estilo de escrita brilhante, mas "A Guerra em Directo" é, sem dúvida alguma, um importante testemunho sobre o que se passou por trás das câmaras durante a cobertura de vários conflitos armados (Afeganistão, Iraque, ...) pelos modernos meios de comunicação.
Decididamente uma boa prenda de Natal.

A reforma do acesso ao CEJ e formação de Magistrados

A OA publica no seu site uma síntese do documento já apresentado pela Direcção do CEJ ao Ministro da Justiça relativo ao acesso ao CEJ e à formação de Magistrados.
http://www.oa.pt/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=31632&idsc=39749&ida=50653

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

E passaram 50 anos...


Terça-Feira, 12 de Dezembro de 2006, o Coro Misto da Universidade de Coimbra completará 50 anos de vida.
Mais do que uma simples efeméride, o cinquentenário do CMUC simboliza também 50 anos do papel das mulheres no meio universitário. Criado em 1956 sob iniciativa do Conselho Feminino da Associação Académica de Coimbra, o Coro Misto procurava permitir que as estudantes, em número já suficiente, pudessem contribuir para a vida cultural da Academia, permitindo-se que integrassem um coro universitário.
A preocupação pela integração era tal que os Estatutos do Coro Misto da Universidade de Coimbra mantêm em vigor um antecedente das hoje faladas quotas, dizendo-se: "A Direcção é composta por 7 elementos, devendo, na medida do possível, 3 dos quais ser do sexo feminino".
Hoje o CMUC tem uma direcção composta por 6 mulheres e apenas um homem. Sinais dos tempos...
Os 50 anos de Coro Misto mostram, assim, como a mulher se impôs na Universidade. Tanto como a instituição Coro Misto, é também a mulher quem celebra este importante cinquentenário.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Ecovia acaba... e pronto?

Desculpem-me ser monotemático, mas confesso-me verdadeiramente chocado com a falta de reacção a uma catástrofe como o desmantelamento da Ecovia.
Experimentem pôr no Google "Ecovia Coimbra" e vão encontrar dezenas de artigos científicos internacionais sobre o sistema de park and drive conimbricense, elogiosos e apontando como exemplo a seguir na generalidade das cidades do mundo.
Acabar com ela parece-me um erro crasso, e essa é opinião generalizada. Mas o que me deixa completamente atónito é não encontrar protesto em lado nenhum! As pessoas que utilizam o serviço vão olhando para os mini-bus com ar triste e comentando "É aproveitar enquanto há...". Mas onde está o espírito revolucionário? Onde está a revolta? Ninguém se insurge? Não se faz nada?

Depois de muito perguntar isto, descobri que está na Biblioteca Geral da Universidade, no largo da Porta Férrea, um abaixo-assinado protestando contra este irracional desmantelamento. Quem puder, que participe.
Além desta iniciativa, não descobri mais nada.

Onde estão as associações cívicas quando precisamos delas? E as associações de comerciantes da Baixa? Não vão perder clientela com o fim da Ecovia? E a Universidade? Não faz nenhum protesto formal?
Serei só eu quem está revoltado???

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

As novas inaugurações conimbricenses.

O Presidente da República esteve ontem em Coimbra a inaugurar alguns equipamentos públicos e obras de requalificação da cidade, no que toca à sua relação com o Mondego.

1. Ponte Pedonal Pedro e Inês: Da autoria de Cecil Balmond (autor também da ponte do milénio em Londres, sobre o Tamisa), a Ponte Pedonal e de Ciclovia é uma estrutura totalmente em aço com 275 metros de comprimento total e 4 metros de largura. No centro, no meio do rio, uma “praça”, um miradouro de descanso, de pausa, de meditação.

Apoiando-se num
arco central com 110 metros de vão e que se eleva a 10 metros sobre a água, a nova ponte é anti-simétrica em cada meio-arco relativamente ao eixo longitudinal, coincidindo estes, no centro do Rio, numa extensão de 12 metros e permitindo deste modo a criação de uma praça com 8 metros de largura.

O efeito está bonito, colorido (não consegui fotos, ainda), e parece abrir as portas à margem esquerda que, assim, se torna um bom destino de passeio, revalorizando o Mosteiro de Santa
Clara-a-velha e a Quinta das Lágrimas.



2. Estátuas Pedro e Inês: Na margem esquerda, à saída da ponte pedonal, inaugurou-se um conjunto escultórico dedicado a Inês de Castro da autoria de dois artistas plásticos espanhóis e três portugueses. Inês, memória e futuro; Inês, rainha viva; Inês Pedro e o Mondego; Inês e Pedro, a paixão e Lágrimas de Inês são os “temas” das estátuas que resultaram do Encontro Ibérico de Escultores realizado no âmbito das comemorações dos 650 anos da morte de Inês de Castro, promovido pela Câmara Municipal de Coimbra. Foi ainda implantada a “Lágrima de Inês”, um “rio de sangue” e o plano da Fonte dos Amores, revestidos a mosaico cerâmico.

Sabe bem perceber que à saída da nova ponte já há onde passear, num jardim atractivo que fica contíguo ao recuperado Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e à Quinta das Lágrimas.
Só é de lamentar que José Miguel Júdice tenha cedido ao sabor do dinheiro e haja deixado a "sua" Quinta das Lágrimas no meio de uma urbanização que, aposto, lhe rende muito dinheiro, mas belisca o magnífico palácio que é, para todos os portugueses, o símbolo do verdadeiro amor.

domingo, 26 de novembro de 2006

A vida de David Gale

The life of David Gale, traduzido para português como Inocente ou culpado?, é um filme do Alan Parker, interpretado por Kevin Spacey e Laura Linney (mais pormenores em http://www.imdb.com/title/tt0289992/).
O filme é de 2003, mas eu só o vi agora.
Recomenda-se!
A película trata do tema da pena de morte no sistema americano, da sua crueldade e das suas falhas.
Mas, é acima de tudo, muito, muito original e muito para lá do habitual last minut savement. As interpretações daqueles dois actores são soberbas e há muito tempo que não via um argumento tão bem escrito.
Claro que, para mim - e isso o filme não aborda - independentemente da questão dos injustamente condenados à pena de morte, a questão é: filosoficamente, pode o Estado dispôr da vida dos seus cidadãos?

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Um escândalo... Afinal os Clubes de Futebol não pagam IMI.

"O Governo, em coordenação com o grupo parlamentar do Partido Socialista (PS) recuaram e, afinal, os estádios de futebol já não vão pagar Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) em 2007 caso, como se espera, as sugestões de alteração à proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2007 entregues pelo PS sejam aprovadas."

Público on-line,
24.11.2006

Isto revolta-me. Sacrifícios só a alguns? Mas que têm os clubes de futebol a mais que os outros contribuintes? Ah, é porque se faz desporto. Pois é, mas faz-se desporto em milhares de pavilhões, onerados com o IMI. Os teatros pagam IMI. Pagam todos. Menos os clubes.
Mas o dinheiro vai ter de aparecer. De onde? Do mesmo sítio que paga as SCUTs de alguns, os abortos de algumas e os transportes de outros: da classe média.

Isto sim, é socialismo... Tirar aos pobres para dar aos clubes de futebol!

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Comboio da discórdia

Parece que o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, João Amaral Tomaz, aproveitou a conferência anual da Ordem dos Economistas proferir algumas declarações sobre os resultado "insatisfatórios" que considera ter obtido na luta contra a fraude fiscal.
Entre outras coisas, João Amaral Tomaz, culpou os tribunais pela lentidão no combate à fuga aos impostos, afirmando que o esforço da administração "acaba por esbarrar numa justiça excessivamente lenta, que tarda em sancionar os criminosos", chegando mesmo a comparar o combate à fraude fiscal a "um comboio com várias carruagens", em que uma delas — a da justiça — "atrasa as outras".
Afirma ainda o referido Secretario de Estado que "quando não há uma sanção rápida, fica-se com a ideia de que o sistema não funciona, o que, por si, constitui um estímulo ao incumprimento".
Confesso que me faz alguma confusão ver os Tribunais atacados desta forma por outros orgãos de soberania. Quem ouvir estas declarações até corre o risco de ficar a pensar que não era um membro do governo a falar, mas um membro de um partido da oposição.
Será que não há nada que o Sr. Secretário de Estado possa fazer para corrigir essa situação? Este discurso do "estou de mãos atadas" é mesmo o mais correcto por alguém com estas responsabilidades? Ou seria antes de esperar uma postura coesa, em que os membros do governo actuam e falam como membros da mesma equipa?

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Cara Lavada!

Um ano e meio depois (sim, começámos mesmo em Abril de 2005...), é chegada a hora de uma renovação estética.
Tentei não alterar o esquema de cores mas apenas dar ao nosso devaneios e desabafos um aspecto mais moderno.
Mariana e Roque: se não gostarem, não se hesitem em dizer que voltamos já ao esquema anterior!

PS: Há muito tempo que não temos uma daquelas acesas discussões. Deve ser da idade, começamos a concordar todos uns com os outros... É a esquerda a acomodar-se e a aperceber-se que a razão estava à direita... hehehe!

Oops, mais um equivocado!

Alguém tem que explicar ao Jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho o que são e, não são, as funções de um jornalista.
Eis ao que me refiro:
Rodrigo Guedes de Carvalho, hoje, no JOrnal da Noite na Sic, dirigindo-se ao empresário José Veiga:
"Bem, mas o senhor diz acusa, tem que apresentar provas e ainda não me apresentou provas nenhumas!"
Mais elucidade, respondeu o empresário:
"Apresentar provas? Eu hoje já disse o que tinha a dizer ao Juiz".
Pois!

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Desilusão

Andam aí a noticiar que este ano não há Festa da Música!
E ainda por cima por falta de verbas.
Para quem como eu, tentou, e não conseguiu, comprar um único bilhete para a - este ano, luxuosa - programação da Fundação C. Gulbenkian (porque foi tudo com as assinaturas e outros...) esta notícias é mais um "balde de água fria".

O mais original argumento a favor do aborto que já vi.

José Alves Pedro, um militante do PS, no recente congresso socialista realizado em Santarém: "Venho de uma família de dez irmãos e tenho cinco filhos. Quanto à questão do aborto devo-vos dizer que se a interrupção voluntária da gravidez fosse legal tinha tido só dois e hoje eram uns doutores. Assim tenho cinco e não são nada."

Com argumentos destes, o "não" nem precisa de fazer campanha...

Não gostava mesmo nada de ser filho deste senhor.

E agora, uma coisa que não tem nada a ver com nada.

Caros companheiros co-proprietários do blog. Não acham que está na altura de o refrescar estaticamente? Começo a achar este grafismo demasiado "normal" e gostava de mudar. Tenho a vossa bênção? (desprovida, claro, de todo o significado religioso! Longe de mim ofender-vos!!)





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sábado, 18 de novembro de 2006

Separação de poderes

O director-adjunto do DN, Eduardo Dâmaso, assina hoje o editorial dedicado à proposta do PS - parcialmente apoiada pelo PSD - de criar comissões parlamentares de inquérito presididas por magistrados do MP, que deverão dar impulso ao respectivo processo penal sempre que no decurso dessas comissões se conclua pela verificação de indícios de práticas criminosas.
Eis o link para leitura:
http://dn.sapo.pt/2006/11/18/editorial/procurador_especial.html

Tempos difíceis estes…
Mas, não se pense que é exclusivo de Portugal ou, mais importante, que a coisa não pode piorar.
Para ilustrar o que digo em acima, transcrevo umas linhas do livro Os valores em perigo – A crise moral americana, do ex-presidente e Nobel da Paz Jimmy Carter:
Alguns dos funcionários mais conservadores de Washington demonstraram a frustração que a independência dos tribunais lhes provoca intrometendo-se à última hora no altamente controverso caso de Terri Schiavo, depois de quase 20 juízes, na sua maioria juristas conservadores nomeados pelo republicanos, terem, como quinze anos antes, recusado prolongar-lhe a vida por meios artificiais.
(…)
Furioso com os juízes, o líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Tom Delay, ameaçou impor o controlo legislativo dos tribunais estaduais e federais.
Ordenou um inquérito do Congresso aos Juízes e fez uma série de iradas proclamações:
“A independência dos Tribunais não significa supremacia dos Tribunais. Estas decisões não são exemplos de uma sociedade madura, e sim de um aparelho judicial descontrolado.
Durante muitos anos o Congresso fugiu ao sei dever de responsabilizar a judicatura. Acabou-se. (…) Instalámos os tribunais. Podemos desinstalá-los. Temos o poder da bolsa”.

North country – Terra Fria

O filme é baseado nos factos que deram origem a um dos mais emblemáticos processo judiciais americanos sobre assédio moral e sexual no trabalho, criando um precedente jurídico e impondo às empresas regras até aí impensáveis.
Não é um filme brilhante.
O advogado não faz, em Tribunal, umas alegações arrebatadoras, nem conduz um interrogatório irrepreensível.
As personagens não são exemplares ou modelos de virtude. Não dizem as coisas mais inspiradoras nos momentos difíceis. Não são modelos a seguir, nem fizeram sempre as melhores opções.
É, afinal, sobre a maioria de nós. Por isso, gostei do filme.
Exemplar no filme, só a coragem das personagens interpretadas pela (fantástica) Charlize Theron e pela (impressionante) Francês McDormand (aliás, nomeada neste papel para melhor actriz secundária).

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Publicidade que se justifica pelo tema

Eis um excerto de um post do blog causa nossa ( http://causa-nossa.blogspot.com/) que julgo importante:

Mulheres na política internacional
Dois extractos da apresentação que fiz anteontem no Plenário do PE do Relatório "Mulheres na política internacional", ontem aprovado:"É de salientar, como exemplo pioneiro, o governo paritário de José Luis Zapatero em Espanha. Num mundo em que a engenharia política tendeu historicamente a obstruir a participação das mulheres nos centros do poder político e económico, este é um exemplo a emular. Demonstra que a democracia paritária é possível. E ela muito depende de liderança política esclarecida". (...) "Nenhuma instituição democrática devia ter uma composição com menos de 40%, ou mais de 60%, de qualquer sexo. Quotas e outros mecanismos equilibrantes, hoje necessários para as mulheres, poderão ser amanhã necessários para os homens".
O texto integral está na ABA DA CAUSA.
A.G.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Lamentável.

Lamentável. É a única palavra que me ocorre ao ver que, ao mesmo tempo que na SIC se entrevista o Presidente da República, alguém teve o mau gosto de simultaneamente marcar uma conversa com Pedro Santana Lopes na televisão pública.
Minto. Há outra palavra que me ocorre: vergonhoso.
Primeiro porque das inverdades de Santana Lopes estamos todos fartos. Depois porque demonstra uma manobra clara de acinzentar a entrevista a Cavaco Silva

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Os unanimismos do Congresso do PS

Os congressos do PS nunca tiveram grande interesse. São sempre amorfos e demasiado calmos, sem surpresas e sem boa política.
Mas este foi especialmente maçador: um voto contra a moção do Secretário-Geral??? No PS inteiro só Helena Roseta discorda da estragtégia de Sócrates? Isto parece-me muito grave, porque tanto unanimismo só pode significar uma de duas coisas: ou não há inteira liberdade no partido por medo às represálias do líder ou pela vontade de ir buscar tachos governativos; ou o unanimismo esconde as divergências que, por decisão partidária, não devem ser trazidas a lume enquanto o PS estiver no poder.

De qualquer forma, é muito engraçado apreciar 2 coisas:
O PS é um partido que fica completamente desorientado quando está no poder: não sabe como enfrentar sindicatos, pois esteve sempre do seu lado; não sabe como resolver a contestação social, pois sempre a fomentou - veja-se o discurso de João Proença;

O PSD é um partido que não sabe fazer oposição, ficando ainda mais desorientado: não consegue contestar as medidas do Governo, pois no fundo, considera-as correctsa e necessárias.


quarta-feira, 8 de novembro de 2006

O Fim da Ecovia - A injustiça governamental nos Transportes Urbanos de Coimbra

É com desagrado e profundo lamento que assisto à decisão da Câmara Municipal de Coimbra de acabar com o serviço ECOVIA, já a partir de 1 de Janeiro. Para quem não conhece, a Ecovia é um sistema inovador que visa retirar o trânsito do centro da cidade, colmatando ao mesmo tempo as desvantagens dos transportes públicos. Assim, na cidade de Coimbra existem 6 parques de estacionamento periféricos onde se pode estacionar durante um dia inteiro por 1,75€. Por esse preço, há direito a vigilância do carro e 2 senhas para minibus (ida e volta), cuja viagem oferece a leitua do Diário de Coimbra e se opera em percursos directos, rápidos aos pontos mais problemáticos do trânsito da cidade: o Polo I da Universidade e a baixa.
Não tem a desvantagem dos autocarros e tróleicarros da morosidade e dos trajectos mais ou menos enviosados, bem como permite escapar àquele provincianismo citadino de Coimbra, através do qual não fica bem certas pessoas serem vistas num autocarro.
Criado em 2000, nestes seis anos, que conclusões tirar do serviço? Muitos carros tirados do trânsito, menos problemas de estacionamento mas muito menos adesão do que se esperaria. O que resultou nos 5,2 MILHÕES DE EUROS de prejuízo e no epíteto de Ecovazia...

Parece-me que a Ecovia é um daqueles serviços por natureza deficitários, pelo que o prejuízo por si só não devia ser suficiente para fundar a extinção de um mecanismo inovador e económico que, de facto, oferecia alternativas ao uso do transporte particular.

Mas não posso deixar de concordar com Carlos Encarnação quando se analisa que 5,2 Milhões de Euros é um prejuízo manifestamente incomportável. E que resulta, mais uma vez, da estranha injustiça governamental que paira sobre o sistema de transportes conimbricense.

Com efeito, a terceira maior rede de transportes urbanos do país não recebe um cêntimo dos cofres do Estado, sendo ainda a única cidade ibérica que maném os tróleicarros, responsabilidade histórica mas também ecológica (os trolleys são eléctricos e, assim, não poluem o ambiente) que potencia os custos.

A isto acresce a inexplicável medida do governo de suspensão das obras do MetroMondego, quando o concurso estava adjudicado e as demolições na baixa estão em curso.
O que só é mais dramático quando o orçamento de Estado gasta milhões em transferências compensatórias para a Carris, o Metro de Lisboa e os STCP. E nem um cêntimo aos SMTUC...

Isto é, Coimbra paga os seus transportes e ainda suporta os de Lisboa e do Porto.
Em consequência, está marcado um dia de luta pela rede de trasnportes urbanos em Coimbra. Rede essa que, dadas as circunstâncias, estará mais pobre a partir de 31 de Dezembro, perdendo o seu original sistema de park and drive.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Trivialidades

Já repararam que é impossível tirar um talão das máquinas da EMEL pelo tempo mínimo permitido (30 min.)?
É que para ter um talão desses teríamos de conseguir meter 28 cêntimos numa máquina que não aceita moedas mais pequenas que a de 5 cêntimos...
Eu sei que se trata de uma trivialidade, mas para quê estabelecer um limite mínimo que, dada a forma como as máquinas funcionam, é meramente formal?

Não estará na altura de abrir a pestana?

Fala-se muito em Portugal de aumentar a produtividade e a capacidade de competir com as empresas de outros países, mas, honestamente, acho que muitos portugueses (especialmente os médios e pequenos empresários) ainda não perceberam o calibre do desafio que os aguarda.
Como o Courrier Internacional muito bem retratou numa das suas recentes edições, desde à muito que a China abandonou a postura de isolacionismo e desprezo pelo que o exterior tinha a oferecer que a caracterizou durante mais de uma dezena de séculos.
Na verdade, temos o privilégio de assistir uma viragem da política deste gigante asiático (e mundial) que procura agora lançar-se, com todas as suas forças, sobre as fontes de energia e matérias-primas de todo o mundo para alimentar a sua economia que cresce a um ritmo galopante e inundar os mercados europeus e americanos com produtos chineses.
Temos exemplos dessa viragem na recente decisão da China de enviar capacetes azuis para o Líbano e nos resultados da cimeira sino-africana realizada à poucos dias em Pequim (onde foram celebrados dezasseis acordos do valor de 1,9 mil milhões de dólares!).
É verdade que o paradigma em que assenta grande parte do sucesso chinês (mão-de-obra barata à custa de uma oferta quase infinita e da ausência de direitos dos trabalhadores) tem, necessariamente, os dias contados.
Mas quando falamos de um país do tamanho da China, há que ter noção que poderá demorar muito tempo até atingir o ponto de ruptura (por força da enorme massa de chineses que procura trabalho e devido à sua postura de sacrifício em nome do bem maior) e que este gigante tem muitos exemplos por onde aprender a adaptar-se às novas circunstâncias.
Ou seja, está na altura de os países ocidentais "abrirem a pestana" porque a sua supremacia económica está, claramente, a ser posta em causa.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Condenação de Saddam

Ninguém (razoável) discute que Saddam Husein deve ser punido pelos seus horríveis crimes contra o povo iraquiano.
Mas será, verdadeiramente, um "enorme feito para a jovem democracia iraquiana" como disse George W. Bush?
Tenho algumas (para não dizer muitas) dificuldades em colocar entre as grandes conquistas de um povo a execução de alguém, mesmo que tenha sido um ditador que instilou terror e sofrimento durante todo o tempo que esteve no poder.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

2 passos certeiros no caminho para um pouco mais de descrédito do MP

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=249083

Sondagens reveladoras

De acordo com uma sondagem conduzida pelo "The Guardian", no Reino Unido, pelo "Haaretz", em Israel, pelo "La Presse" e pelo "Toronto Star", no Canadá e pelo "Reforma", no México, George W. Bush é considerado uma ameaça maior para a paz mundial do que os líderes da Coreia do Norte e do Irão.

À frente de Bush mantém-se apenas o líder da rede terrorista al-Qaeda, Osama bin Laden, sendo que apenas sete por cento dos inquiridos acreditam que o mundo se tornou um lugar mais seguro desde as intervenções armadas no Iraque e no Afeganistão.
É verdade que as sondagens não nos dão verdades absolutas relativamente ao cenário mundial, mas apenas o que as pessoas pensam do que ocorre no mundo.
De qualquer forma, não deixa de ser interessante que a intensa campanha de propaganda movida pelo presidente americano de se afirmar como o paladino da justiça contra o terrorismo e como protector da paz mundial contra a "aliança do mal" tenha conduzido, pelo menos nestes quatro países, a um efeito totalmente contrário ao pretendido.